sábado, abril 28, 2007





Falo agora dos despojos…
do corpo que embacia toda a sanidade acumulada, incontinente tensão…
da masturbação que serve de antecamara à afectividade
ao nosso querido prevalente hipotálamo que me impede de ser feminino
ao estomâgo que se revolta com a sua própria voracidade


Falo ainda de despojos Da compulsão erudita que se despenha bibliotecária
Do didacta a dizer barbaridades apenas por possuir o engano
À pessoa sã que colecciona obscenidades dentro de PortaS



Ensaio despojos Em todas as feiras amargas onde procuro
a intemporalidade do Absurdo
Em que preparo com decoro os momentos que antecedem a aventura
E finjo ter prazer ao recitar cacos de uma receita ancestral
Parteira de orgias impressas no imaginário colectivo


Não acredito em despojos São elegância disfarçada
Atropelam o adepto ferrenho Nada têm de sublime


Nem dor nem residência Nada é em si condição suficiente
Mesmo os despojos precisam de uma maioria absoluta
Para que impolutos possam governar sobre outros
rotulados de menores



Não temo despojos Apenas a decadência que se confunde
como se senil estivesse À procura da fonte da juventude
Nos sítios onde nunca procurou antes


Texto: Paulo Dias

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