quinta-feira, novembro 15, 2007


O tempo em que a honra era um valor inalienável. Hoje em dia a mentira confunde-se com a verdade, basta ser repetida várias vezes e ter alguém que a confirme. Já ninguém está disposto a defender a sua honra com o sangue que banha as margens da carne. E a culpa é daqueles que mentem todos os dias, descaradamente, aos seus povos, e que esperam que a erosão da história transformem as inverdades em mitos.

terça-feira, novembro 13, 2007

Aconteceu na Finlândia aquilo que todos ou quase todos pensam ser exclusivo dos E.U.A. Um adolescente entrou a matar na sua escola secundária, depois de ter posto um video a circular no Youtube a avisar a futura tragédia. Não foi levado a sério, à semelhança do que aconteceu na Virginia à bem pouco tempo. A conclusão que se tira daqui é simples: ninguém leva os adolescentes a sério, e a raiz da revolta dos mesmos que praticam tais actos é precisamente serem votados ao ostracismo por todos os que os rodeiam. Estas incursões pela Web não são simples chamadas de atenção, são o fim da linha de um trajecto marcado pela solidão, a raiva acumulada pela percepção da insignificância do papel que têm no ambiente que os rodeiam e o desespero resultante, que conduz à vingança e à retaliação. São, regra geral, universos sem perpectivas, sem expectativas, sem saída, com desejo de vingança e ajuste de contas, e que por serem usadas num suporte que tem o acesso de milhões de pessoas devem ser encaradas com a gravidade que se impõe. Juntando isto tudo ao fácil acesso a armas temos o barril de pólvora ideal. Não estamos face a meros danos colaterais, apesar do que os lobbies das armas nos dizem. Estamos perante políticas que levam ao suicídio cada vez mais pessoas que desistem de viver porque ninguém se preocupa. Nem sequer quando gritam alto e a bom som que estão doentes e que precisam de ajuda. Devemos estar todos atentos a estas coisas, para que isto não volte a acontecer. Nem nos E.U.A. nem em lado nenhum.

Vivemos numa sociedade que atingiu niveis impensáveis de paranóia e descontrolo. Matamos-nos uns aos outros por descontos em garrafas de óleo, pensamos imediatamente em terrorismo quanto avistamos nuvens de fumo negras e prendemos pessoas em casa contra a sua própria vontade, só para mantermos o poder a todo o custo. E o mais engraçado é que tudo isto começa a ser confundido com normalidade. Os media tratam destas questões com uma leviandade tão grande que o mais comum dos mortais não dá valor nenhum à realidade. São estes os tempos que temos pela frente. A arrogância auto evidente dos poderes instalados está de volta e ninguém tem forças para lutar contra. Estamos demasiado ocupados a consumir a nossa vida para nos preocuparmos com estes sinais evidentes de decadência e falência da liberdade.

sábado, novembro 10, 2007

Simplicidade


Quanto mais perguntas fazemos, mais respostas temos. Quanto mais vida vivermos, mais respostas temos também. Depois temos de decidir se queremos ser cientistas ou viajantes.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Ensaio de uma despedida

O visitante abraçou-me, de novo era a juventude que voltava, e sentou-se comigo. Uma fadiga vinha da sua boca, os seus cabelos traziam a poeira do caminho, débil luz nos olhos.
A si mesmo contava as tristes coisas da sua vida, quase se repetia nela a minha pobre vida. Agasalhado nas sombras, eu olhava-o. A tarde abandonou a sala quieta quando partiu. Disse-me que foi grato viver com ele ( longínqua a juventude ), que era uma festa de alegria. Só fiquei de novo quando deixou a casa.

O luar vela a poltrona, nesta sala vêm-se os astros brilhar. É um homem cansado de esperar, que tem já velho o pesado coração e a seus olhos não sobem as lágrimas que sente.

Francisco Brines (1932)


Ensaio de uma despedida