sexta-feira, maio 11, 2007
Passa por mim sem me veres…
se me encontrares,
finge surpresa e, acima de tudo, sorri.
Sorri para que eu perceba a
tontura que te precede,
a vertigem que distende o teu hesitante músculo facial…
SORRI; dá-me um daqueles que te vi guardar a sete chaves…
olha-me de frente, não te acanhes…
não penses que o vazio é velejado por entre mágoa,
que é sintoma de decepção…
pensa apenas que o sorriso que trazes contigo é maior
que a eternidade que ficou por explorar…
Possuis a mesma delicadeza
de uma parede de granito outonal…
dormes em sossego e partilhas o teu mundo
com os que lá ficaram,
náufragos dos teus líquidos amenos…
Acima de tudo, sorri.
Não prives a tua alva dentadura
de fazer uma última aparição
e de triunfar sobre a indiferença com que come
mais um fruto proibido
Talvez quando fores velha e desdentada
o vento que te escolhe como leito da tempestade
guarde um silvo agudo por entre os teus tardios dentes
e afaste os ouvidos de quem se aproxima;
Pode ser que eu regresse da bruma vestido de sebastião
com a dentadura
que te prometi para a eternidade…
mas não esperes por mim, já todo eu sou desdentado
e nem sequer estou perto da meia idade
não me custa mostrar o buraco que tenho dentro de mim…
os meus dentes não mentem;
ruíram, devolutos que estão por falta de novos inquilinos
por isso, quando me vires corre rapidamente, foge
até à loja mais próxima e abastece-te,
como se estivesses em alerta vermelho
e o mundo inteiro estivesse na iminência de um
ataque organizado pelas nações aliadas ao teu sorriso...
Envolves todos os teus dentes
na dissumulação de todas as coisas que porventura sentes
e na véspera de me deixares dormente
a mais uma das tuas flutuações,
que durmas em sossego com todos os que por lá ficaram,
pobres coitados, habitantes insulares
que desaprenderam a sorrir dentro de ti.
Texto: Paulo Dias
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