quinta-feira, maio 24, 2007
Excertos #1
"(...) A rapariga entoava um olhar mudo, boquiaberto, ainda que ausente. Parecia nunca ter estado ali, aparentava um distanciamento tão grande que me fazia questionar se iria ouvir alguma palavra que remasse branda em direcção a ela… Apesar disso peço dois cafés, um meio cheio e outro nem por isso; não obtenho resposta…tento invadir o seu árido campo visual de forma a chamar a atenção…nada. Sinto uma espécie de arrepio eléctrico a deslocar-se corpo acima, a desfiar uma espécie de potencial irritação…nunca desenvolvi vontade nem talento para confrontos, evito-os sempre a todo o custo... acabo sempre por encontrar saídas criativas que me permitem canalizar a frustração daí resultante…pedi em voz alta ao cavalheiro imóvel que abraçasse o acordeão e que com o auxílio deste rompesse suavemente a cortina de separação erguida uns momentos antes…o som fugitivo do sopro sonoro parece despertar partículas que por ali ficaram teimosas, devolvendo à sala a sua tepidez ambiente.
A rapariga pousa em mim a sua atenção; as suas feições iluminam-se e um olhar inquisidor acorrenta-se ligeiramente ao meu…altura ideal para pedir os tais cafés e esperar pacientemente…ela faz sinal de que irá deslocar-se até à mesa onde me encontro com os cafés em mão…
Entretanto, a sala compõe-se pequena de pessoas infalíveis, menos atentas às peculiaridades momentâneas, a compartimentos únicos onde a repetição se aborrece dela mesma e resolve espreitar o insólito…"
Texto: Excerto de " Uma Breve História Matinal " de Paulo Dias
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