quarta-feira, novembro 07, 2007

Ensaio de uma despedida

O visitante abraçou-me, de novo era a juventude que voltava, e sentou-se comigo. Uma fadiga vinha da sua boca, os seus cabelos traziam a poeira do caminho, débil luz nos olhos.
A si mesmo contava as tristes coisas da sua vida, quase se repetia nela a minha pobre vida. Agasalhado nas sombras, eu olhava-o. A tarde abandonou a sala quieta quando partiu. Disse-me que foi grato viver com ele ( longínqua a juventude ), que era uma festa de alegria. Só fiquei de novo quando deixou a casa.

O luar vela a poltrona, nesta sala vêm-se os astros brilhar. É um homem cansado de esperar, que tem já velho o pesado coração e a seus olhos não sobem as lágrimas que sente.

Francisco Brines (1932)


Ensaio de uma despedida

2 comentários:

Ly disse...

Envelhecer.....penso que o maior susto que temos é acordar diante das rugas, do que vivemos e não sabemos exatamente nada.....eis o mistério da juventude e da vida.

ótimo fds

Ly

Paulo Dias disse...

e chegar à conclusão que tudo o que fizemos até agora não foi realmente aquilo que queriamos ter feito..isso assusta-me e muito...

optimo fim de semana também

marble