segunda-feira, outubro 27, 2008

Seres

Lantejoulas e lentilhas perdem o sentido quando afastadas do grupo onde se inserem naturalmente, as suas irmãs que em quase nada diferem delas. Formigas e térmitas ganham um novo sentido enquanto contemplamos as suas criações que arranham os céus rentes ao solo. O feijão é responsável por um reino onde habita um gigante indolente, lançando um pé por onde qualquer um de nós pode trepar. É mágico, sonha e tem esse potencial todo dentro de um indivíduo feijão. Os seres humanos perdem-se na multidão a que chamamos de rebanho e ganham sentido quando exaltados ao abrigo de um conjunto de pessoas habitantes da mesma região, com os mesmos formatos. O que quer isto dizer? que não faz sentido dizer lantejoula, porque ela deixa de o ser se estiver sozinha. Passa automaticamente a ser um berloque ou outra coisa qualquer. Não faz sentido dizer lentilha, porque ela perde todo o seu valor estético e nutritivo, passando a ser um lentilha orfã. Que faz sentido dizer formiga, porque muitas vezes avistamo-las a vaguear sozinhas, mas sempre com a sensação que o grupo estará mais perto ou mais longe, definitivamente presente. Que não faz sentido dizer homem, porque homem é, ao mesmo tempo, sinónimo de solidão e imersão num grupo mais vasto. Ainda procuramos a melhor forma de nos caracterizar. Ou lantejoulas ou formigas ou ambas ou nenhuma. Talvez feijão dentro de um saco de feijões mágicos.

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