quinta-feira, abril 02, 2009

Ruínas

Os fortes silenciam a ténue voz da alma
e eis que chega alguém
com uma muralha bem erguida ao alto
em nome da troça e escárnio da minha.

Incidência oblíqua no centro deste equador
contracção audaz de todos os berros.
Húmus frio, parda alergia na sentimental luz.

Ferrugem, clara roldana
desafio matemático nos biológicos ponteiros
de relógio, permanecem lacaias ou agulhas no palheiro
das coisas.

Definitivamente obsoletas.
Deixadas à mingua, impedidas de correr as
veias intestinas das outras.

E sempre ruínas nuas,
marca de grandiosidade apagada,
fumam as jazidas de carbono alquímico e
sonham febris dias alvos,
livres de batalhas imaginadas.

Quem por trás dela se esconde
alheado, pouco alerta,
herda o falsímetro sensacional da liberdade.
Os nós cansados procurando abrigo
e os elementos...ah! os elementos!
Pausam o botão da viagem a fim de se erguerem
sãos e rupestres.

Comum pensar as ruínas propriedade sem dono...
Um habitáculo primitivo onde juntamos os nossos corpos aos cadáveres
do inconsciente colectivo e
dançamos o paganismo ancestral...

Sabendo que toda a estrutura tem um arquitecto
que mesmo negligente ou comunitário
vela ao longe a sua criatura.


Texto: Paulo Dias