domingo, junho 24, 2007

Entrevista sobre Musica #2



E agora as respostas:


1- definir música é mais difícil do que parece à partida. Podemos dar uma definição tipo dicionário ou uma definição puramente subjectiva.. parece-me que é da segunda que estás à espera... música para mim é a representação de todo um universo ou vários, ininteligíveis à partida e que se agregam em sons para provocar melodias mais ou menos agradáveis; é uma forma de comunicação primordial e inerente ao homem; é veículo de transformação e ponte para dimensões paralelas; é uma resposta invisível a todas as perguntas jamais formuladas... é uma benção dos supostos criadores do universo....

1.2- a palavra música está intimamente ligada aos momentos em que dela se desfruta... memórias, momentos, fotografias mentais, ralos de banheira profundos, o passar das horas vagas, a minha primeira infância, almoços em família e dias festivos, aquilo que eu quero e vou fazer até ao fim dos meus dias, todo o meu conteúdo que pode ser explicado através dela...

2- a música para mim não tem uma função específica... depende dos dias, dos humores ou do contexto em que está inserida... pode ser ritual ou hábito, pode ser necessidade de catarse sem recorrer a ajuda profissional, pode ser a negação dela própria, pode ser puramente estética, pode ser instrumento de afirmação perante os poderes que condicionam a expressão ( o rock associado a uma geração que ambicionava a ruptura com os costumes instalados )... a sua função é não ter função específica... é liberdade em movimento, é, em última análise, a paz...

3- tudo o que sentimos ocorre primeiro no nosso cérebro... nesse sentido é o nosso cérebro e posteriormente nós que reagimos emotivamente à música... somos nós que colorimos e ilustramos as músicas como bem entendemos, mas para existir essa reacção torna-se indispensável a existência de um gatilho exterior, um estímulo... sendo a musica expressão de algo que se sente ou veículo de comunicação, sem dúvida que a música pode transmitir e exprimir emoções... a relação entre a mensagem original e a mensagem apreendida não é linear, visto que a pessoa que a percepciona acomoda a informação de acordo com a sua realidade interna... mas sem dúvida nenhuma que a música sendo comunicação é capaz de exprimir seja o que for, mesmo que à partida não ambicione exprimir nada... em suma, as duas são interdependentes

4- não existem duas apreciações iguais, logo seria injusto dar mais crédito a uma apreciação do que a outra... diria que permite uma apreciação e abordagem diferente... não podemos é ficar reféns de um tipo específico de apreciação... tocar um instrumento permite-nos, por exemplo, distinguir melhor as partes componentes de uma música, mas não é condição essencial para que isso aconteça.. um bom ouvido é mais importante na apreciação de uma música do que saber ler uma pauta ou saber tocar um instrumento..

5- as palavras servem propósitos mais conscientes... ilustram um determinado estado de espírito, tém em regra geral um objectivo mais saliente... por vezes uma letra ou poema pode ajudar a música a ganhar uma maior profundidade e intimidade... há sempre aquelas letras que nos fazem lembrar épocas especificas das nossas vidas pelo seu conteúdo... eu presto sempre primeiro atenção à música em si e só depois é que absorvo a letra... para mim quando as duas se complementam é o ideal.. quando existe uma discrepância qualquer que seja muito visível entre a letra e a música fico desconfortável e acabo por não conseguir absorver nem uma nem outra... mas sem dúvida que a letra, por exemplo na música pop e mainstream, tem uma grande importância: basta notar na quantidade de vezes que os refrôes das músicas são repetidos para se certificarem que não vão abandonar o nosso cérebro tão rapidamente... se ajuda a apreciar a música? - nem sempre...

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