sábado, fevereiro 02, 2008
Poema #2
E é aqui que eu me sento, escancarado, sem apelo.
No fundo de uma acomodação bafienta.
Com restos de roupas usadas
Naftalina orfã do seu cheiro.
É junto de mim que não quero ficar.
Não cometas a loucura e imprudência de me enterrares numa lápide.
E comprometeres a minha eternidade.
Aqui jaz ninguém.
Estas ossadas não devem permanecer, devem soltar-se no universo
e confundir-se com o pólen que transporta as abelhas.
Ir ao fabrico do alimento viscoso, puro, elemento da criatura fundente
Propriedade da carne dilacerada
e das veias aquedutos de sangue.
Não me interrompas a ascenção aos cumes
prendendo a minha essência em carvalho
não sou adepto de elegias fúnebres
corro o risco de ser revelado e perecer.
Abre um buraco grita lá dentro canta o meu obituário
a toda a boémia que te encontrar
transforma-me em matéria orgânica
edifica uma àrvore de ávidos frutos cadentes
Tudo em minha honra.
E partirei assim, da mesma forma como cheguei
Nem roupa nem armadura nem silêncio.
Texto: Paulo Dias
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