sábado, fevereiro 02, 2008
Poema #3
Pudesse eu acordar de repente
sons que tenho em mim latentes
De certeza que compunha uma daquelas sinfonias
inscritas no mais profundo esconderijo...
o molde da lembrança de ti.
Pudesse eu colher o solo
onde crescem cacofónicos
e deitar todos no terreno onde ausente
floresces.
De certeza que comporia outra daquelas sinfonias
Trazia-te de volta à vida
E em vez de uma serias duas.
Pudesse eu arar a superfície do sofrimento
Onde se libertam prantos doridos
Afinados em dó.
De certeza que originava um requiem
E morrias sem querer
Ficando sem ti mais uma vez.
Pudesse eu largar a enxada
E sentar-me no baloiço da infãncia
De certeza que sairia uma cantilena
Chegarias triunfante ao colo de um giroflé
E em vez de uma serias muitas.
Pudesse eu rebolar na lama dos dias
E assistir à impavidez e à serenidade
Sereno e impávido.
Comporia uma daquelas músicas
Farfalhudas cheias de lugarejos
Comuns.
E em vez de muitas voltarias a ser uma
E eu ficaria por aqui
Por medo de voltar a perder a multiplicidade
Da tua ausência.
Texto: Paulo Dias
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