Imaginem um corredor estreito, situado algures numa torre com vários andares, cheio de mentes activas e cativas desse espaço.
Estão na escuridão e silêncio total. Sozinhas com as suas ideias. No final de cada corredor existe uma porta, mas ninguém sabe, pois todo o corredor está apagado, sem luz. Ninguém pode intuir que haja uma saída, a não ser que queira dar um sentido mais amplo à sua existência, à sua clausura. Pois bem, a partir do momento em que afirma que a porta existe, mas não a vê, está no domínio da fé, com origem numa lógica individual, separada da experiência.
Outros poderão afirmar que existem lâmpadas por cima das suas cabeças, por quererem dar um sentido mais amplo à sua existência, à sua clausura, ou ainda por temerem a sua solidão aumentada. Mas ninguém pode ter a certeza que existe luz potencial por cima;quando o afirmam querem escapar desesperadamente à sua prisão, à aparente falta de sentido daquele espaço, querem e têm esperança em sair. Estão ainda sentados na poltrona optimista da fé.
Existem aqueles que por serem pessimistas se afirmam realistas.
No fundo, têm razão.
Não existe nada para além da escuridão e é essa a realidade. Mas se acenderem a luz ou se depararem com a porta não encontrarão nenhuma correspondência entre estes eventos, dado que nada existe, nada intuiram.
Viverão a estadia nesse espaço como se não tivessem outra saída senão aceitar a sua própria condição.
Outros ficarão imóveis por intuirem o abismo à sua frente. O tempo irá encarregar-se destes.
Morrerão a projectar a paralisia do medo, sem nada conhecer e definharão com as raízes enterradas em terreno estéril.
Eu prefiro outro caminho. O de saber que existe correspondência entre os eventos, mesmo sem saber que me encontro num corredor com uma porta ao fundo e uma fileira de lâmpadas tombadas por cima da minha cabeça.
A realidade é o caminho. A iluminação do caminho é a realidade.
O caminho na torre é sempre em frente. No corredor não se vira nem à esquerda nem à direita. Por aí apenas se bate com a cabeça nas suas paredes.
Em frente não existem obstáculos, mas sim sensores de movimento. E os sensores acendem a luz do caminho.
A pouco e pouco apercebemo-nos que estamos num corredor, a pouco e pouco absorvemos a experiência do caminho.
O caminho é olhar para a frente.
Os vários andares são partes diferentes da mesma torre.
A torre é a soma de todas as experiências, este é o seu conteúdo.
As experiências fazem com que a torre desperte e tenha consciência dela própria.
A torre é a consciência que ela tem dela própria.
O despertar da torre é a realidade, e foram os seus prisioneiros que a acordaram quando se puseram em movimento.
E assim se fez luz em vários dos seus andares e a torre passou a ser um farol na noite escura.
Texto: Paulo Dias
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