quinta-feira, novembro 20, 2008

Ovo gemido


A partir do momento em que se ouve um ovo cozido a gemer baixinho o conceito de vida e morte fica sériamente abalado.
Parecia que o futuro pintainho se estava a queixar por não ter tido a oportunidade de ver o planeta em que a sua espécie tem sempre um prazo de validade.
Uma gema só pode comunicar através de gemidos, a sua lingua natural.
É como eu digo, a loucura tem sempre um método e faz todo o sentido.
E a minha está intimamente ligada a momentos senis como este.

quinta-feira, novembro 13, 2008

Sopas de letras

Todos os sonhos começam invariavelmente pela degustação de uma sopa de letras. Foi assim que aprendi a sonhar, a criar formas liquidas de entretenimento enquanto alimentava o corpo e a alma. Ao juntar as letras formamos imagens, representamos coisas que estão ausentes e aprendemos pedaços temperados de cultura. As utopias nascem assim, letras que flutuam à deriva e que ainda não têm significado. É isto a utopia, não é um bom lugar e nenhum lugar como dizem, é simplesmente o nascimento do pessimismo que nos permite duvidar da nossa sanidade. É a distância que vai do limite inferior da perseverança vezes o optimismo individual a dividir pela época em que a humnidade vive.
A utopia é a morte do sonho na fogueira, é o oniricídio. É semelhante ao imperialismo cultural que guia as nações para guerras de imposição de valores. A utopia quando nasce já está morta.

segunda-feira, novembro 10, 2008

Sono pesado

" Vamos a correr até lá fora, o som de aspiração mais audível. Chego primeiro, como o rato da boda célebre. Dois carros, melhor, dois veículos que deslizam sem dificuldade, mas instáveis, fazem barulho. Muito barulho. São hoovercrafts, hibrídos, suaves, aspirantes a ex-aspiradores. Sobem e descem colinas urbanas instaladas no quintal verde, um pouco artificais. Sobem e descem. E os meus olhos acompanham os demais. Sentimos o entusiasmo dos corredores. Estão felizes, têm um brinquedo novo e divertem-se. E eu também. Quero estar ali, com eles, gozar, voar sem sair do chão, sorrir, ser voraz sem parecer mal, condenável. Afinal é uma corrida, tem bandeiras de xadrez e pessoas facciosas. Nesse mesmo instante viro-me para o outro lado e estou à beira de uma piscina, numa montanha russa semelhante a todas aquelas onde nunca tive coragem de andar e sou ovacionado pela multidão calorosa. A plataforma ergue-se a uns bons trinta metros de altura e quem cair irá concerteza acordar do seu sono pesado"


Texto:"Excerto de um dos sonhos de hoje" de Paulo Dias

sexta-feira, novembro 07, 2008

Obama, Atlas e Pandora

Nesta altura empolgante que o mundo vive duas perguntas são obrigatórias: não estarão as expectativas muito altas em relação à capacidade transformadora de Obama e até que ponto é que nós temos consciência do nosso papel enquanto agentes e representantes dessa transformação?
O mundo está empolgado, seguramente. Eu também estou. Obama significa, como muitos dizem, uma mudança de paradigma. Significa, como o próprio disse, mudança, uma mudança simples.
Mas no fundo o que está em jogo é o mito do atlas. A perseverança de andar com o mundo às costas, montanha acima, para saber que quando chegamos ao topo temos de começar tudo de novo.
Nunca esquecer a proveniência porque essa tomada de consciência enquadra o sucesso.
No fundo, no dia em que eu próprio faço anos quero dar os parabéns ao Obama por ter sacudido o pó da esperança de muita gente globo fora.
A abertura de uma nova caixa de pandora. O que será que descansa no seu fundo?

quarta-feira, novembro 05, 2008

Fecho às 2 a.m

Mais uma facada no espírito e alma do bairro alto.

terça-feira, novembro 04, 2008

Fé #2

Alguém disse que a fé é masturbatória.
Eu completo: se a fé é masturbatória o extâse religioso é uma ejaculação precoce.

segunda-feira, novembro 03, 2008

O caminho faz-se caminhando

Quem caminha precisa de saber onde está para poder usar um mapa.

sábado, novembro 01, 2008

A calma redonda



Imagem: Rupprecht Geiger