O homem médio normalmente não gosta de desafiar o estado das coisas, prefere que as decisões sejam tomadas por ele.
Somos um país de homens e mulheres médios, onde esperamos sempre que venham uns senhores autoritários que nos ilibem de tomarmos decisões que possam ser embaraçosas para nós. Estes badamecos mediocres que estão no governo estão lá porque preferimos seguir as maiorias e não fazer muito barulho.Os brandos costumes são o solo de onde floresce a passividade e a não cidadania.Não aprendemos a pensar sozinhos e é por isso que vivemos à séculos numa sociedade interrompida, sem poder de contestação e a chafurdar eternamente no seu lodo.
quinta-feira, fevereiro 28, 2008
quarta-feira, fevereiro 20, 2008
A realidade.
Imaginem um corredor estreito, situado algures numa torre com vários andares, cheio de mentes activas e cativas desse espaço.
Estão na escuridão e silêncio total. Sozinhas com as suas ideias. No final de cada corredor existe uma porta, mas ninguém sabe, pois todo o corredor está apagado, sem luz. Ninguém pode intuir que haja uma saída, a não ser que queira dar um sentido mais amplo à sua existência, à sua clausura. Pois bem, a partir do momento em que afirma que a porta existe, mas não a vê, está no domínio da fé, com origem numa lógica individual, separada da experiência.
Outros poderão afirmar que existem lâmpadas por cima das suas cabeças, por quererem dar um sentido mais amplo à sua existência, à sua clausura, ou ainda por temerem a sua solidão aumentada. Mas ninguém pode ter a certeza que existe luz potencial por cima;quando o afirmam querem escapar desesperadamente à sua prisão, à aparente falta de sentido daquele espaço, querem e têm esperança em sair. Estão ainda sentados na poltrona optimista da fé.
Existem aqueles que por serem pessimistas se afirmam realistas.
No fundo, têm razão.
Não existe nada para além da escuridão e é essa a realidade. Mas se acenderem a luz ou se depararem com a porta não encontrarão nenhuma correspondência entre estes eventos, dado que nada existe, nada intuiram.
Viverão a estadia nesse espaço como se não tivessem outra saída senão aceitar a sua própria condição.
Outros ficarão imóveis por intuirem o abismo à sua frente. O tempo irá encarregar-se destes.
Morrerão a projectar a paralisia do medo, sem nada conhecer e definharão com as raízes enterradas em terreno estéril.
Eu prefiro outro caminho. O de saber que existe correspondência entre os eventos, mesmo sem saber que me encontro num corredor com uma porta ao fundo e uma fileira de lâmpadas tombadas por cima da minha cabeça.
A realidade é o caminho. A iluminação do caminho é a realidade.
O caminho na torre é sempre em frente. No corredor não se vira nem à esquerda nem à direita. Por aí apenas se bate com a cabeça nas suas paredes.
Em frente não existem obstáculos, mas sim sensores de movimento. E os sensores acendem a luz do caminho.
A pouco e pouco apercebemo-nos que estamos num corredor, a pouco e pouco absorvemos a experiência do caminho.
O caminho é olhar para a frente.
Os vários andares são partes diferentes da mesma torre.
A torre é a soma de todas as experiências, este é o seu conteúdo.
As experiências fazem com que a torre desperte e tenha consciência dela própria.
A torre é a consciência que ela tem dela própria.
O despertar da torre é a realidade, e foram os seus prisioneiros que a acordaram quando se puseram em movimento.
E assim se fez luz em vários dos seus andares e a torre passou a ser um farol na noite escura.
Texto: Paulo Dias
Estão na escuridão e silêncio total. Sozinhas com as suas ideias. No final de cada corredor existe uma porta, mas ninguém sabe, pois todo o corredor está apagado, sem luz. Ninguém pode intuir que haja uma saída, a não ser que queira dar um sentido mais amplo à sua existência, à sua clausura. Pois bem, a partir do momento em que afirma que a porta existe, mas não a vê, está no domínio da fé, com origem numa lógica individual, separada da experiência.
Outros poderão afirmar que existem lâmpadas por cima das suas cabeças, por quererem dar um sentido mais amplo à sua existência, à sua clausura, ou ainda por temerem a sua solidão aumentada. Mas ninguém pode ter a certeza que existe luz potencial por cima;quando o afirmam querem escapar desesperadamente à sua prisão, à aparente falta de sentido daquele espaço, querem e têm esperança em sair. Estão ainda sentados na poltrona optimista da fé.
Existem aqueles que por serem pessimistas se afirmam realistas.
No fundo, têm razão.
Não existe nada para além da escuridão e é essa a realidade. Mas se acenderem a luz ou se depararem com a porta não encontrarão nenhuma correspondência entre estes eventos, dado que nada existe, nada intuiram.
Viverão a estadia nesse espaço como se não tivessem outra saída senão aceitar a sua própria condição.
Outros ficarão imóveis por intuirem o abismo à sua frente. O tempo irá encarregar-se destes.
Morrerão a projectar a paralisia do medo, sem nada conhecer e definharão com as raízes enterradas em terreno estéril.
Eu prefiro outro caminho. O de saber que existe correspondência entre os eventos, mesmo sem saber que me encontro num corredor com uma porta ao fundo e uma fileira de lâmpadas tombadas por cima da minha cabeça.
A realidade é o caminho. A iluminação do caminho é a realidade.
O caminho na torre é sempre em frente. No corredor não se vira nem à esquerda nem à direita. Por aí apenas se bate com a cabeça nas suas paredes.
Em frente não existem obstáculos, mas sim sensores de movimento. E os sensores acendem a luz do caminho.
A pouco e pouco apercebemo-nos que estamos num corredor, a pouco e pouco absorvemos a experiência do caminho.
O caminho é olhar para a frente.
Os vários andares são partes diferentes da mesma torre.
A torre é a soma de todas as experiências, este é o seu conteúdo.
As experiências fazem com que a torre desperte e tenha consciência dela própria.
A torre é a consciência que ela tem dela própria.
O despertar da torre é a realidade, e foram os seus prisioneiros que a acordaram quando se puseram em movimento.
E assim se fez luz em vários dos seus andares e a torre passou a ser um farol na noite escura.
Texto: Paulo Dias
sábado, fevereiro 02, 2008
Poema #3
Pudesse eu acordar de repente
sons que tenho em mim latentes
De certeza que compunha uma daquelas sinfonias
inscritas no mais profundo esconderijo...
o molde da lembrança de ti.
Pudesse eu colher o solo
onde crescem cacofónicos
e deitar todos no terreno onde ausente
floresces.
De certeza que comporia outra daquelas sinfonias
Trazia-te de volta à vida
E em vez de uma serias duas.
Pudesse eu arar a superfície do sofrimento
Onde se libertam prantos doridos
Afinados em dó.
De certeza que originava um requiem
E morrias sem querer
Ficando sem ti mais uma vez.
Pudesse eu largar a enxada
E sentar-me no baloiço da infãncia
De certeza que sairia uma cantilena
Chegarias triunfante ao colo de um giroflé
E em vez de uma serias muitas.
Pudesse eu rebolar na lama dos dias
E assistir à impavidez e à serenidade
Sereno e impávido.
Comporia uma daquelas músicas
Farfalhudas cheias de lugarejos
Comuns.
E em vez de muitas voltarias a ser uma
E eu ficaria por aqui
Por medo de voltar a perder a multiplicidade
Da tua ausência.
Texto: Paulo Dias
Poema #2
E é aqui que eu me sento, escancarado, sem apelo.
No fundo de uma acomodação bafienta.
Com restos de roupas usadas
Naftalina orfã do seu cheiro.
É junto de mim que não quero ficar.
Não cometas a loucura e imprudência de me enterrares numa lápide.
E comprometeres a minha eternidade.
Aqui jaz ninguém.
Estas ossadas não devem permanecer, devem soltar-se no universo
e confundir-se com o pólen que transporta as abelhas.
Ir ao fabrico do alimento viscoso, puro, elemento da criatura fundente
Propriedade da carne dilacerada
e das veias aquedutos de sangue.
Não me interrompas a ascenção aos cumes
prendendo a minha essência em carvalho
não sou adepto de elegias fúnebres
corro o risco de ser revelado e perecer.
Abre um buraco grita lá dentro canta o meu obituário
a toda a boémia que te encontrar
transforma-me em matéria orgânica
edifica uma àrvore de ávidos frutos cadentes
Tudo em minha honra.
E partirei assim, da mesma forma como cheguei
Nem roupa nem armadura nem silêncio.
Texto: Paulo Dias
Poema #1
Se sou liquido e estou encarcerado, porque me evaporo?
E se me evaporo, onde está a chuva a que tenho direito?
Não me considero sólido.
Se fosse sólido seria fruto da sedimentação
talvez rocha.
Ainda não houve alma que assim se pronunciasse na minha direcção.
Gostaria porém de estar aos ombros de uma montanha
vê-la parir um rato apressado
segurá-la pelas mãos na extinção do parto
e cobri-la com um manto branco de avalanche.
Mas teria de ser líquido
para poder escorrer sólido
encosta abaixo.
Não.
Não serei líquido, concerteza.
Não cabe em mim a imensidão dos oceanos e as suas riquezas.
Não aprendi a escutar o rumor das marés ou a beber a silhueta prateada das noites luadas
Nem a manter à volta falésias obstinadas em equilíbrio.
No entanto desgasto as redondezas
invento arestas afiadas ou ilhas
a quem chamo rochas e pedregulhos
e sou confundido com àgua mole.
Sou ainda pedra dura
morada de rapinas, ninhos e eremitas
metamórfico, às vezes magmático incandescente
e sonho com o tecto do mundo.
Serei então mistura
meio liquido meio sólido nunca gasoso.
Porque se fosse gasoso este poema estaria Evaporado.
Texto: Paulo Dias
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