quinta-feira, maio 24, 2007

Excertos #3


" (...) A rapariga presa olha pela janela…vê o mesmo que a outra, mas sente-se sozinha.Limita-se a seguir com os olhos o cortejo de pensamentos breves que desfilam sonoros… A vizinhança alegra-se, deita vivas e urras, já se perfila embriagada, pronta a desembrulhar pacotes de confetti, aqueles papelinhos de um azul suave.
Presa, não se entusiasma…do outro lado a chuva na face, um corpo que não é seu, formas submersas em irrealidades, experientes ilusionistas..
Convidam-na a participar no desfile, a fazer parte do arrojo, da celebração de ideias alienantes nunca antes vistas…mas ela continua à espera, dentro da cela diurna, à espera que tudo aquilo não seja mais do que uma impressão vadia, que ficou por ali sem transporte.
Está trancada no sítio do costume, com vista para o exterior; lugar junto à janela para poder observar os dias festivos, as celebrações de momentos de vitória parciais, o cortejo fúnebre de todas as suas iniciativas…senta-se e observa, por vezes atentamente.
Toda esta aparente folia tem como resultado imediato a continuidade de algumas vozes com tom próprio, marcado e presente, são origem de pensamentos, investidos no corpo por onde ecoam… no entanto, a ela, prenderam-lhe a voz; devolveram-na ao silêncio ascético. "



Texto: Excerto de " Dentro da Cela Diurna " de Paulo Dias

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