segunda-feira, abril 30, 2007

boards of canada - everything you do is a balloon (homemade)

Não seria eu próprio se não plantasse aqui uma música dos BOC. Mas o mais relevante, e no fundo , simbólico e sinónimo de uma universalidade tranversal e inaudita é a forma como são incorporadas estas melodias; invariavelmente, toda a gente com quem me cruzo e que nutre, como eu, uma admiração muito especial por estes escoceses, fala de memórias de infância. Este video caseiro construído a partir de uma das melhores faixas dos BOC vem provar isso mesmo, todo ele é construído a partir da inocência da infância, da espontaneidade que fica presa à nossa memória e que é resgatada sempre que ouvimos BOC. A melhor prova da existência de um inconsciente colectivo como Jung descreve é a colectivização da experiência musical, um remetente comum ao qual não podemos escapar e que nos é dado raramente através de vislumbres tão requintados e puros como os BOC. Agradeço aos BOC a revelação do antídoto contra a insanidade e deterioração das memórias pueris.

sábado, abril 28, 2007





Falo agora dos despojos…
do corpo que embacia toda a sanidade acumulada, incontinente tensão…
da masturbação que serve de antecamara à afectividade
ao nosso querido prevalente hipotálamo que me impede de ser feminino
ao estomâgo que se revolta com a sua própria voracidade


Falo ainda de despojos Da compulsão erudita que se despenha bibliotecária
Do didacta a dizer barbaridades apenas por possuir o engano
À pessoa sã que colecciona obscenidades dentro de PortaS



Ensaio despojos Em todas as feiras amargas onde procuro
a intemporalidade do Absurdo
Em que preparo com decoro os momentos que antecedem a aventura
E finjo ter prazer ao recitar cacos de uma receita ancestral
Parteira de orgias impressas no imaginário colectivo


Não acredito em despojos São elegância disfarçada
Atropelam o adepto ferrenho Nada têm de sublime


Nem dor nem residência Nada é em si condição suficiente
Mesmo os despojos precisam de uma maioria absoluta
Para que impolutos possam governar sobre outros
rotulados de menores



Não temo despojos Apenas a decadência que se confunde
como se senil estivesse À procura da fonte da juventude
Nos sítios onde nunca procurou antes


Texto: Paulo Dias

1958

Uma das músicas que estiveram em alta rotação nos meus ouvidos o ano passado. Os Skalpel são um colectivo de DJ´s oriundos da Polónia, e que neste momento estão a tentar reunir a maior colecção de samples de Jazz Polaco dos anos 60 e 70. Este àlbum, homónimo, é de 2004 e foi editado pela Ninja Tune. Diversão, introspecção e fluidez quotidiana.

Festival Germanland


Os Tarwater vão actuar no Theatro Circo de Braga, inseridos na programação do Festival Germanland-Panorama das Músicas da Alemanha. São um duo que se formou em 1995, com uma discografia já extensa. Só conheço o registo de 2005, o álbum intitulado "The Needle Was Travelling", que contém um conjunto muito interessante de canções, electrónica com incursões pop, numa atmosfera por vezes densa, mas convidativa. Ao que parece só vão mesmo actuar em Braga. Para quem estiver disponível para viajar 350 Km para norte aconselho a darem uma espreitadela. Dia 4 de Maio às 0 horas. Os bilhetes custam 10 euros.

sexta-feira, abril 27, 2007



Tenho uma poltrona que se senta à flor da pele…
Com as minhas certezas presas por um fio…E os amores que já desavindos reclamam os sulcos habituais das suas próprias marcas…. O meu eu tardio…
regente num sonho revestido de profecia Acólito das minhas deambulações
num qualquer canto desesperado Ao redor de tardes infindáveis vésperas de festividades

Não consigo nutrir..nada nem ninguém.
Nem sequer animais que de tão estimados merecem a arrecadação
Onde prostrados ficam sem terem destino aparente…
O sabor acre que se instala é proverbial Tem toda a sabedoria popular que detém o peso secular da verdade Sou a repetição de todo um género literário E o ralo por onde escorre a tontice optimista Noite após noite Finjo a dúvida E espero pela coragem da mudança moro ao virar da esquina abrando sempre que a lua faz questão O raiar da aurora hasteia o hábito Sinónimo do dormitório anestésico Da camarata isolada Dos beliches esvaziados Do ranger do mofo… prestes a fazer mais uma das refeições que não tenho Vontade de fazer Quem come por gosto apenas engorda a vontade irracional de comer E aumenta o volume até incomodar os demais… Decibéis gordurentos…Já alguém procura dietas anoréticas….Emagrecer o livre arbitrio para Encaixar o mundo livre…

Tudo isto é nausea
Esqueçamos o fado Não me enganem com promessas de um horizonte risonho
Não disfarcem a poupança de recursos e de ligações, Nem a herança de um banqueiro que mora em nós e que Nos promete a vida para além da morte poupada
Está na hora de acordar e proteger o caminho que sentimos como Aquele que nos leva de volta ao quarteirão das nossas memórias Já é tempo de sermos ingénuos com propriedade Livres no fundo Para poder abdicar de ser E festejar mais um dia com sede de vazio Sem remorsos de espécie alguma
Socorram-me.. Já nem sei o que digo Mas posso ensinar a dar o nó que se prende dentro de mim..
eis o manual…

Amanhã é um novo dia Um caldeirão de novas possibilidades
Uma poção mágica de esquecimento Um grau a mais na dependência da felicidade
O que resta sou sempre eu Refém das minhas probabilidades
Do pensamento cartesiano E da fé num ente invisível…


Texto: Paulo Dias

isan - the race to be first home

Isan, música para dias parecidos com o de hoje...céu pouco nublado, sem riscos de pluviosidade, temperatura amena com pouca humidade... electrónica primaveril... prestem atenção ao video, é mesmo muito interessante...


Álbum:Meet Next Life (2004)
Artista:Isan
Editora:Morr Music

canoe canoa

foi um dos melhores albuns que ouvi o ano passado... este projecto do italiano Andrea Mangia, Populous, além de ser uma mistura bem sucedida de várias paisagens sonoras, tem o mérito de ter uma positividade inerente que a cada audição se intensifica...uma delicada mistura de Hip-Hop com elementos Folk, electrónica e, quem sabe, essencialmente uma grande dose de bom gosto...




Álbum: Queue for Love (2005)
Artista: Populous
Editora: Morr Music

Low Profile


A minha estreia no Indie deste ano não podia ser melhor. Low Profile é um filme simples, belíssimo, bem realizado e que retrata a sociopatia a que somos por vezes condenados por querermos tanto pertencer às nossas próprias fantasias. Pelo que sei , é a estreia de realizador alemão Christoph Hochhlauser. Fico curioso para ver os seus próximos trabalhos.

narcolepsia


como já vem sendo habitual, dou por mim a adormecer no metro e a acordar nas estações terminais...hoje fui visitar a estação terminal de Amadora-Este... ainda por cima só me apercebi que não estava na paragem em que deveria estar quando o meu bilhete não funcionava nas malditas máquinas...mas o que me deixa verdadeiramente desconfortável é a lembrança de abrir os olhos em S.Sebastião e adormecer no espaço de 5 segundos, tão profundamente que só acordei na última estação...

Avril 14th

14 de Abril...os olhos caem da varanda em mármore negro para debaixo dos pés de quem passa apressadamente; são imunes à dor do atropelo, estão ausentes na sua distância....rastejam as pedras até regressarem de novo, afastando as cortinas da visão... enchem o seu reservatório de uma coragem castanha e soluçam lágrimas furtivas, audíveis para quem sabe de onde eles espreitam...



Àlbum: Drukqs by Aphex Twin

Alberto Balsalm

Bálsamo...alívio, conforto, elixir composto pelos alquimistas para ressuscitar os mortos...fim de tarde, sorriso no rosto, arrepio na espinha, poltrona no olimpo... apenas uma das muitas músicas quase perfeitas de um dos grandes génios dos nossos dias...
Richard D. James a.k.a. Aphex Twin...

quinta-feira, abril 26, 2007

Abril-Cartaz de Cinema no dia da revoluçao

fui à procura da cidade de Lisboa no dia 25 de Abril de 1974....
descobri, a título de curiosidade, os filmes que estavam em cartaz no dia da revolução dos cravos:
Cartaz dos cinemas em 25 de Abril de 1974:

ALVALADE
«A rainha do karatê», de Chien Lung
Preço de 10$00 a 30$00.

APOLO 70
«American graffiti», de Georges Lucas
Às 00.00 horas: «O Candidato», de Michael Ritchiie
Preço de 7$50 a 30$00

AVIS
«Malteses, burgueses e às vezes», de Artur Semedo
Preço de 15$OO a 27$50.

BERNA
«Jesus Cristo superstar», de Norman Lewison
Preço de 20$00 a 35$OO

CASTIL
«Segredos proibidos», de Philip Saville
Preço de 20$00 a 35$OO

CINEARTE
«Corrida selvagem», de Burt Topper
Preço de 12$50 a 22$50

CONDES
«O magnifico» de Phililipp de Broca
Preço de 12$50 a 27$50

ÉDEN
«Cantinflas às ordens de vosselência», de Miguel M. Delgado
Preço de 12$50 a 27$50

ESTÜDIO
«Ritual», de Ingmar Bergman
Preço de 20$00 a 27$50

ESTÜDIO 444
«O porteiro», de Bernard le Coq
Preço de 17$50 a 25$00

EUROPA
«Almas a nu», de Simone Signoret
Preço de 15$OO a 22$50.

IMPÉRIO
«Um homem de sorte», de Lindson Anderson
Preço de 15$OO a 27$50.

LONDRES
«O convite», de Claude Goretta
Preço de 20$00 a 35$OO

MONUMENTAL «Harry, o detective em acção», de Ted Post
Preço de 20$00 a 30$00

MUNDIAL
«O nosso amor de ontem», de Stark
Preço de 17$50 a 30$00

ODEON
«Cruel vingador», de Chang Chen
Preço de 17$50 a 25$00

OLYMPIA
«Fabricante de loiras explosivas», de Mário Bava
Preço de 11$00 a 15$00

PATHE
«Conde Yorga Vampiro», de Bob Kelllan
Preço de 20$00 a 30$00

POLITEAMA
«Eusébio, o panterara negra», de Juan de Orduna
Preço de 10$00 a 22$50

ROMA
«O nosso amor de ontem», de Stark
Preço de 17$50 a 27$50

ROXY
«Até ao amanhecer», de Peter Collmson
Preço de 20$00 a 30$00

SATÉLITE
«Cerimônia solene», de Kagisa Oshima
Preço de 20$00 a 30$00

SÃO JORGE
«Tchaikovsky, delírio de amor», de Ken Russel
Preço de 17$50 s 37$50

TIVOLI
«A golpada», de George Rey Hill
Preço de 12$50 a 30$00

VOX
«O homem das solas rotas», de Cliff Owen
Preço de 20$00 a 35$00

terça-feira, abril 24, 2007

a figura



De tão contente que estou até vou homenagear o artista....

Arovane - Lilies - Merlin

fim de tarde urbana, a escrita é posta em dia, também os ouvidos...adoro a forma como esta música flui, como se entranha e desbloqueia o tráfego...uma faixa sublime, de novo por Arovane

Arovane - A Secret

como é engraçada a forma como nos reencontramos com as nossas memórias e lhes damos um nome...este é o nome, Arovane, um projecto da Morr Music que me veio parar às mãos em meados de 2002, sem nome, num CD virgem não identificado..foi-me descrito como "uma experiência musical que tem o cravo como base e a electrónica como terreno"...fiquei 5 anos inteiros a ouvir, a introjectar esta sonoridade invulgar, apenas com a certeza da sua proveniência, a Alemanha...por isso decidi baptizá-lo, chamei-o de German No Name...descubro agora que dá pelo nome de Arovane, um projecto que já me era familiar mas que nunca pensei ser o mesmo... contente que estou por nomear o inominável, deixo-vos uma das faixas desse mini-álbum ou E.P. ou o que for....um segredo desvendado.

CAMUFLAGENS


existi durante um dia, preso na pele de um misantropo....passei despercebido para poder demonstrar a textura da camuflagem...àspera, rugosa... silenciosa.
ainda que perdida...desliza.

segunda-feira, abril 23, 2007

MARIA VAI COM AS OUTRAS?

Espaços diferentes de animação nocturna precisam-se, com uma certa urgência... é imperioso desmontar a macrocefalia arrogante de algumas casas, que rapidamente e sem darem por isso se transformam em verdadeiras discotecas de aldeia..
Sugiro uma visita ao MARIA LISBOA, não só porque ainda não estive lá, mas essencialmente porque vale a pena alargar a oferta que se reduz a olhos vistos... ainda é virgem, não muito conhecido e é precisamente nestas alturas de evolução que se apanham as melhores noites, a lua de mel dos novos espaços...eu irei até lá, ver com os meus olhos e com vontade de me divertir....


PS: é um espaço, pelo que tive oportunidade de ler, GLBT e com a presença regular do antigo DJ do Trumps Mário Varela; fica no antigo Rock Line... vale a pena dar uma saltada, mesmo que seja a primeira e última.

frame-Shuttle 358

Ando à procura de músicas deste àlbum ( FRAME, 2001), do projecto Shuttle 358, que, apesar de já ter uns anitos, o pouco que ouvi fez-me ter vontade de sair à procura de mais... Electrónica minimal de muito bom gosto. Deixo-vos este excerto magnifico, um video simples mas de uma beleza calma e limpida, como eu gosto.

YOU MAKE ME THIS HAPPY


aqui vai a capa do referido álbum...
P.S: ainda hoje tive a tentação de me afogar numa fatia imensa de bolo de chocolate, uma compensação merecida..afinal, não é todos os dias que ficamos surpreendidos com a nossa capacidade de tolerância

I Am Robot And Proud @ Cruising Iris

uma música que apesar de não ser das melhores é agradável o suficiente para um cálice ferreira..fica aqui o repto de se lançarem à procura deste projecto que consegue ser de uma puerilidade surpreendente..uma boa surpresa para quem anda de ouvidos amarrados a leitores que debitam melodias continuas até à embriaguez...sugestão: Tape e Osaka, ambas do álbum YOU MAKE ME THIS HAPPY (2002)

os dias quentes



Estes pés que caminham no sentido da corda bamba têm saudades de percorrer calçadas desnudadas pela boa disposição dos dias quentes.. estes pés que dissimulam falhas ergonómicas disfarçam conforto, massificam-se na dor que aquece o corpo...agora que se aproxima a época dos pés parecidos com estes, a minha sensação de silêncio amarrotado ainda é maior...a calidez convida à socialização; nem sequer faz sentido uma existência de verão em silêncio...nem sequer faz sentido esta existência de verão...

tapete voador


CRÓNICA DE UM AMANHECER BANALIZANTE: por estes dias cheios de estímulos à actividade entro em oposição...faço sempre o roteiro sonhado previamente; acordo, vejo as notícias da manhã, de vez em quando sou surpreendido com novidades de uma sociedade perita em amamentar monstros sociopatas....penso mais uma vez que devia ir ao cinema e combater a minha narcolepsia recentemente auto-diagnosticada; até calha bem, o Indie está aí, ao virar da esquina da avenida de Roma com a outra, na mais recente Meca dos festivais de cinema lisboetas...ganho confiança ao abrir a porta...sinto o tapete a seguir-me para todo o lado, refrescando a memória da sua recente ausência... vou até ao sitio onde vou, sempre em carruagens lentas, num transporte vedado, imerso no escuro barulho da fricção metálica...a acústica da esmola que desvia o meu olhar em direcção a uma estranha vergonha...o regresso a casa após o cansaço...a não ida sistemática ao cinema..o prato pré-aquecido a transbordar de jantar...a velha e bisonha solitude... é verdade, foi-me tirado o mesmo tapete que por vezes subtraio a outros como eu...