segunda-feira, setembro 29, 2008

Conspiração?

Este mundo à beira do colapso é, como sempre, uma estória mal contada. Já contada várias vezes e semelhante nas suas falências e fusões. A mim cheira-me a conspiração. E a vocês?

quinta-feira, setembro 18, 2008

Gotas revolucionárias de café quente



" (...) O desconhecido observa as redondezas e escolhe um lugar para se sentar…
Os nossos olhos encontram-se a meio caminho da sala e detêm-se por instantes…parece ter escolhido vir na minha direcção… pergunta-me se está disponivel o assento, ao que eu respondo afirmativamente… estava, de facto, curioso para mergulhar na sua proveniência…
Por momentos ficamos em silêncio, à semelhança de toda a sala que nos observa, suspensa de todas as suas actividades…o relógio de parede hesita por uns segundos, sem saber como imprimir ritmo aos ponteiros também imóveis…penso em recortar o ambiente à nossa volta, em isolá-lo, mas tenho medo de modificar toda a envolvente que permeia este momento …
Resvalamos nos encostos destas cadeiras frias e eis que surge a primeira palavra: ele pergunta-me se o café aqui servido possui instintos revolucionários… Confesso que fiz um esforço tremendo para tentar perceber aquilo que ele estava a dizer; tudo o que consegui articular foi uma expressão de incredulidade tal que ele não conteve um sorriso…
Pedi-lhe delicadamente que me mostrasse como é que uma simples chavena de café poderia conter instintos revolucionários, como é que poderia orquestrar revoltas contra o estado das coisas e mobilizar as pessoas nesse sentido… foi o ponto de partida para a conversa mais bizarra que alguma vez tinha mantido com um estranho… começou por dizer que não estava ali de corpo inteiro, que naquele momento era um fragmento dele próprio que interagia amenamente comigo… falou da forma como as gotas quentes se reúnem no fundo de recipientes, como insuspeitas aprendem a ler mentes humanas e a aperfeiçoar efeitos secundários, da forma inteligente como planeiam fugas insidiosas em tampos de mesas redondas das mais altas patentes… arrependi-me amargamente de não ter comigo o bloco de notas matinais para poder confrontar mais tarde a veracidade daquele momento.
Apesar da aparente surrealidade daquele ser e da estranheza causada pelo seu discurso delirante, era afável; a textura da sua voz era familiar; sim, igual a um dia de final de setembro, soalheiro mas com a nostalgia própria de fim de estação… combinava uma lufada de ar fresco com o mistério do dia de hoje (...)"


Texto: Excerto de "Uma breve história matinal" de Paulo Dias
Pintura: Emil Nolde (1867-1956)

O mundo

Está vazio, fraco e em alguns sítios colado a cuspo.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Sobre o Deus que não se sabe se existe

"... se eu pudesse pelo menos reconhecê-lo e convidá-lo para uma conversa calma, falar de como estou longe de qualquer ideia triunfante encomendada para me entreter; poder questionar se algum dia ele pensou que a cortina de ilusão duraria para sempre e no caso da humanidade acordar, que tipo de estratégia alternativa tinha em mente… a ausência dele reveste-se, indecisa, de um significado nunca antes visto; o milagre da solidão que enquanto o diabo nos esfrega os olhos alastra e toma proporções consideráveis fez-me finalmente acordar para todo este véu enfumarado que separa os saudáveis fumadores da vida, os verdadeiros sábios que se vão matando aos poucos, voluntáriamente e apesar de todos os avisos, dos outros que pensam que a abstinência potável e a conformidade às regras pré-existentes é a melhor droga ( que a paz esteja com ele+s)…"


Texto: Excerto de "A cortina de fumo" de Paulo Dias

#8:Substituir a revolta pela culpabilidade

Fazer crer ao individuo que ele é o único responsável pela sua infelicidade, devido à insuficiência da sua inteligência, das suas capacidades ou dos seus esforços. Assim, ao invés de se revoltar contra o sistema económico, o indivíduo auto-desvaloriza-se, culpabiliza-se, engendrando um estado depressivo que tem como um dos efeitos a inibição da acção. E sem acção não há revolta nem revolução.

terça-feira, setembro 09, 2008

#7: Manter o público na ignorância

Actuar de modo a que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para o seu controlo e escravidão.

"A qualidade da educação dada às classes inferiores deve ser pobre, de tal modo que o fosso da ignorância que isola as classes inferiores das classes superiores seja e permaneça incompreensível para as classes inferiores." (cf. "Armas silenciosas para guerras tranquilas)

segunda-feira, setembro 08, 2008

#6: Apelar ao emocional

Apelar ao emocional é uma técnica clássica para boicotar a análise racional e, portanto, o sentido crítico dos indivíduos. Além disso, a utilização do registo emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para ali implantar ideias, desejos, medos, pulsões ou comportamentos.


Isto faz-me lembrar as fases de embriaguez patriótica que ciclicamente se vão verificando. Veja-se o que acontece quando há um mundial ou um europeu, em que normalmente nos convencem que somos os melhores do mundo, apelam ao amor patriótico e cantam o hino a altos berros para inglês ver.

#5: Dirigir-se ao público como se fossem crianças pequenas

A maior parte das publicidades destinadas ao grande público utilizam um discurso, argumentos, personagens e um tom particularmente infantilizadores, muitas vezes próximos do debilitante, como se o espectador fosse uma criança pequena ou um débil mental. Quanto mais se procura enganar o espectador, mais se adopta um tom infantilizante. Porquê?

"Se se dirige a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos, ela terá, com uma certa probabilidade, devido à sugestibilidade, uma resposta ou reacção tão destituída de sentido crítico como uma pessoa de 12 anos. (cf. "Armas silenciosas para guerras tranquilas.)

sábado, setembro 06, 2008

#4: A estratégia do diferimento

Outro modo de fazer aceitar uma decisão impopular é apresentá-la como "dolorosa mas necessária", obtendo o acordo do público no presente para uma aplicação no futuro. É sempre mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacríficio imediato. Primeiro porque a dor não será repentina: depois porque o público tem sempre a tendência de esperar ingenuamente que "tudo será melhor amanhã" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Finalmente, porque dá tempo ao público para se habituar à ideia da mudança e aceitá-la com resignação quando chegar o momento.


Exemplo recente disto é a passagem ao Euro e a perda da soberania monetária e económica dos países da Zona Euro. Estas mudanças foram aceites pelos países em 94-95 para uma aplicação em 2001.

quinta-feira, setembro 04, 2008

quarta-feira, setembro 03, 2008

#3: A estratégia do esbatimento

Para fazer passar uma medida inaceitável, basta aplicá-la progressivamente, de forma gradual, ao longo de 10 anos. Foi deste modo que condições sócio-económicas radicalmente novas foram impostas durante os anos 80 e 90. Desemprego maciço, precariedade, flexibilidade, deslocalizações, salários que já não asseguram um rendimento decente, tantas mudanças que teriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas brutalmente.

terça-feira, setembro 02, 2008

#2: Criar problemas

Mais uma estratégia de manipulação: "criar problemas para depois oferecer as soluções.
Este método também é denominado de "problema- reacção-solução". Primeiro cria-se um problema, uma situação destinada a suscitar uma certa reacção do público, a fim de que seja ele próprio a exigir as medidas que se deseja fazê-lo aceitar. Exemplo: deixar a violência urbana desenvolver-se ou organizar atentados sangrentos, com o objectivo que o público passe a reivindicar leis securitárias e securizantes em detrimento da liberdade. Ou ainda: criar uma crise económica para fazer com que o recuo dos direitos sociais e desmantelamento dos serviços públicos seja um mal necessário."

Não vos parece familiar? Isto é uma das estratégias em curso hoje, como o pseudo aumento da criminalidade. E entretanto é aprovada pelo Presidente da República uma nova lei de segurança interna. Curioso, não?

segunda-feira, setembro 01, 2008

Estratégias de manipulação


Falei da necessidade urgente de deixarmos a miopia de lado. Considerem isto como uma cirurgia correctiva. A seguir vou postar uma série de estratégias de manipulação, dia após dia, para que possam estar com os olhos mais abertos e com uma maior vontade de intervir, seja no que for e de que maneira for. Para começar, a Secretária de Estado Condoleeza Rice vem a Portugal esta semana. Podemos todos dar-lhe uma recepção calorosa, por exemplo. Mas aqui vai, a estratégia de manipulação como definição:

" A estratégia de diversão:"

-Elemento primordial do controlo social, a estratégia de diversão consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mutações decididas pelas elites politicas e económicas, graças a um dilúvio contínuo de distracções e informações insignificantes.
Esta estratégia é igualmente indispensável para impedir o público de se interessar pelos conhecimentos essenciais, nos domínios da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética.

" Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por assuntos sem importância real. Manter o público ocupado, sem nenhum tempo para pensar, voltado para a manjedoura com os outros animais" ( Extraído de " Armas silenciosas para guerras tranquilas"

Nos próximos dias continuarei a por mais estratégias...