quarta-feira, maio 30, 2007

Excertos #4


" (...) Aprendem a desfazer matéria em formas redondas, bolas de solidão recortadas aos céus…
decoram cumes com líquidos potáveis que tremem frios, inventam poltronas loquazes que abrigam ponderações absurdas, embebidas em nectares, solipsistas de tom grave e em surdina…
idealizam seres que sonham com eles, que se superam em buscas irrealistas, sem sentido…
o pueril não concorda com os labirintos que aprenderam a criar, diz que não aguenta estar tanto tempo sem ver resultados práticos…
o maioridade sugere que se inventem passagens secretas onde o tempo não é medido, onde a luz não escapa à sua própria transformação (...) "



Texto: Excerto de " O interlocutor pueril " de Paulo Dias

ready-made


Não sei o que se passa, mas de repente apetece-me ser um ready made. Apropriem-se de mim e apresentem-me como uma obra de arte numa mostra qualquer, transfiram a minha pose quotidiana para uma galeria que esteja perto e chamem-lhe arte, escrevam manifestos sobre a forma como se lembraram de me transportar, mas por favor não me desenhem nenhum bigode rídiculo, isso não.

Um post mudo


Este post é mudo, como a imagem e o filme dentro dele. Este post cala-me o grito porque ainda não tem meios de reproduzir o som dele. Este post caiu à beira rio e não chapinhou porque um chapinhar inaudível não faz sentido. Este post é a preto e branco, porque não conseguiu reinventar a emoção. Este post foi escrito em silêncio, apesar da tentativa abafada de se fazer ouvir. Este post desenvolve problemas de audição à medida que vai desaprendendo a ouvir.



Imagem: Sunrise, de F.W. Murnau

O corpo é o pátio onde se realiza a demanda do amor.



Pintura: Egon Schiele ( 1890-1918 )

O espelho #2



Mas as nossas velhas roupagens são astutas, e acima de tudo, familiares. Apelam ao sentimento de pertença que têm, vinculam-nos ao passado e trazem más novas do futuro, apelidando-o de incerto e catastrófico. É esta a história da humanidade enquanto ser colectivo: embelezar o passado, mitificando-o e poluir o futuro, envenenando-o, como se fosse o pior dos sítios para se viver, para plantar e colher. Alguém se lembra de ter visto um filme que retratasse um futuro vivido em harmonia?

terça-feira, maio 29, 2007

O espelho #1




Normalmente atraímos pessoas que nos possam devolver algo sobre nós, que tenham características que nós também temos, para assim podermos ter uma visão mais ampla, para que nos possamos sentir e ver, em suma. Por vezes não queremos ver o evidente, evitamos a mudança, os nossos padrões ancestrais levam a melhor, também eles evoluem no sentido de uma melhor adaptação. Estar com alguém numa relação é um compromisso mutável que envolve todas as variáveis que conduzem a um crescimento efectivo. É para isso que aparecem pessoas que nos podem servir de espelho.É essa a grande função do outro enquanto outro; dar-nos uma maior amplitude sobre as coisas que temos, boas e más, e ajudar no processo metamórfico. De volta a Sartre, o inferno é olharmo-nos ao espelho e estarmos constantemente a fugir dele.

segunda-feira, maio 28, 2007

a lua


Tenho-te ti, lua satélite natural, a olhar para mim, altaneira no céu pintado de fresco; interrogas-me sobre a tua pesada solidão...não sei, respondo, que fizeste tu para merecer essa prisão orbital que ainda por cima é contemplada e adorada sem teres a menor consciência. Será que sabes que todos falam contigo e que ninguém te ouve? E será que sabemos que falas através das marés e dos ciclos de 28 dias, que és mais lunar do que aparentas? Será que o simples facto de estarmos neste preciso momento a olhar um para o outro não aumenta o desconhecimento que nos separa?
às vezes visto-me de astronauta só para poder mergulhar na minha esperança gigante de poder comunicar o que sinto verdadeiramente, ouvir o teu ranger quando te moves e o teu murmurar de praia-mar. E descobrir finalmente onde escondes o teu pipo e quem é o velho de barbas cheio de folêgo que o enche por ti e quem fabrica o manto branco com que te vestes no final de um dia claro e de vermelho quando o sofrimento humano se tinge de pranto a pensar em ti.

hoje é segunda feira, o dia amanheceu a tossir através da minha boca, que como as demais, está boquiaberta com a intermitência climatérica... estou de molho, na gíria, e sem vontade de comparecer onde quer que seja...belo desempenho o meu no que toca à perpetuação da solidão...não podia fazer melhor, mesmo que quisesse. Esta candeia que vai acesa ilumina o que há de mais escuro na invisibilidade a que me sujeitei. Contra ciclo para re-emergir triunfante ou não....quem sabe.


Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.



Texto: Eugénio de Andrade

domingo, maio 27, 2007

Joanna Newsom - Peach, Plum, Pear

apesar da voz não ser brilhante, leva-me às lágrimas, tão fortes que tenho de fechar os olhos. É, sem dúvida, uma boa escolha para um domingo melancolie.


entro por esta biblioteca babilónica a dentro e tenho um vislumbre da profecia contida nesta imagem...já era de prever- sabemos inconscientemente que ainda vivemos na era dourada da possibilidade de acesso à informação, através da net, por enquanto ainda uma mega biblioteca babilónica.



Pintura: Maria Helena Vieira Da Silva ( 1908-1992 )

quadros da vida... quadros de toda uma vida, moldura impressionista... temas insistentes que deixam pegadas impressas em mim, passeiam pelas avenidas estendidas a partir das traseiras do olhar até se manisfestarem cá fora, já alcatroadas pelo enorme desejo de uma viagem tranquila..

Hoje acordei com a sensação de finalmente ter percebido a mensagem simbólica que está subjacente a este quadro do Klimt...a música salvou-me de perecer às mãos dos meus demónios...parece ser essa a sua função mais essencial.
Não existe salva vidas mais completo do que o poder curativo de uma enxurrada de sons a limpar o caminho que existe entre a orelha esquerda e a direita..esse vai-vem imprime movimento ao exorcismo e cala as vozes discordantes, germinantes da loucura.



PS: Reparem no ar demoníaco do ser que espreita por trás de mulher..


Pintura: " A Música "

sábado, maio 26, 2007

Da morte enterrada #2.5


Sim, fui a um enterro hoje...e voltei de lá. Com a certeza que o tempo escasseia..é portanto, um bem de primeira necessidade.
Ou seja, e em jeito de epifania, o que andamos nós a fazer com a parcela dele que nos coube em sorte?

Da morte enterrada #2

Parafraseando Sartre, o inferno são os outros. Por isso a angústia na hora da morte. Somos abandonados pelas pessoas que amamos e deixados a apodrecer no inferno..


Vir a morte e levar-nos. E não fazermos falta a ninguém. Nem a nós. Que outra vida mais perfeita?



Texto: Vergílio Ferreira
Graffiti: Algures em Melbourne

Da morte enterrada #1

Os homens afinal medem-se em palmos. Quando chega a hora de mergulharem sete palmos dentro da terra são todos grandes...

quinta-feira, maio 24, 2007

Excertos #3


" (...) A rapariga presa olha pela janela…vê o mesmo que a outra, mas sente-se sozinha.Limita-se a seguir com os olhos o cortejo de pensamentos breves que desfilam sonoros… A vizinhança alegra-se, deita vivas e urras, já se perfila embriagada, pronta a desembrulhar pacotes de confetti, aqueles papelinhos de um azul suave.
Presa, não se entusiasma…do outro lado a chuva na face, um corpo que não é seu, formas submersas em irrealidades, experientes ilusionistas..
Convidam-na a participar no desfile, a fazer parte do arrojo, da celebração de ideias alienantes nunca antes vistas…mas ela continua à espera, dentro da cela diurna, à espera que tudo aquilo não seja mais do que uma impressão vadia, que ficou por ali sem transporte.
Está trancada no sítio do costume, com vista para o exterior; lugar junto à janela para poder observar os dias festivos, as celebrações de momentos de vitória parciais, o cortejo fúnebre de todas as suas iniciativas…senta-se e observa, por vezes atentamente.
Toda esta aparente folia tem como resultado imediato a continuidade de algumas vozes com tom próprio, marcado e presente, são origem de pensamentos, investidos no corpo por onde ecoam… no entanto, a ela, prenderam-lhe a voz; devolveram-na ao silêncio ascético. "



Texto: Excerto de " Dentro da Cela Diurna " de Paulo Dias

Agora que o dia ergueu a cortina de separação, resta esperar a pão e água pela noite.


para dizer que não tenho nada para dizer| que não tenho nada para dizer que não| tenho nada para dizer que não tenho...

Excertos #2


" (...) Chega a minha vez de fazer conversa; vem atrasada, ofegante como sempre e inexperiente.. dá à luz todo o tipo de lugares comuns que me asseguram sem o menor espaço para dúvidas que não fui talhado para pastorear conversas, que por mais amenas que elas sejam, espelham sistematicamente a falta de jeito que tenho para estes momentos…obviamente que já estava a antever todo o processo que iria decorrer a partir daí; sudação visivel, pulsação acelerada, o habitual novelo de ansiedade… ao menos estava protegido do rubor facial, esse é sempre o meu pequeno momento secreto…o calor resultante só se torna visivel para sentidos reptilianos… e não me lembro de alguma vez ter estado na presença de um dragão de komodo falante…"



Texto: Excerto de " Uma Breve História Matinal " de Paulo Dias

Excertos #1



"(...) A rapariga entoava um olhar mudo, boquiaberto, ainda que ausente. Parecia nunca ter estado ali, aparentava um distanciamento tão grande que me fazia questionar se iria ouvir alguma palavra que remasse branda em direcção a ela… Apesar disso peço dois cafés, um meio cheio e outro nem por isso; não obtenho resposta…tento invadir o seu árido campo visual de forma a chamar a atenção…nada. Sinto uma espécie de arrepio eléctrico a deslocar-se corpo acima, a desfiar uma espécie de potencial irritação…nunca desenvolvi vontade nem talento para confrontos, evito-os sempre a todo o custo... acabo sempre por encontrar saídas criativas que me permitem canalizar a frustração daí resultante…pedi em voz alta ao cavalheiro imóvel que abraçasse o acordeão e que com o auxílio deste rompesse suavemente a cortina de separação erguida uns momentos antes…o som fugitivo do sopro sonoro parece despertar partículas que por ali ficaram teimosas, devolvendo à sala a sua tepidez ambiente.
A rapariga pousa em mim a sua atenção; as suas feições iluminam-se e um olhar inquisidor acorrenta-se ligeiramente ao meu…altura ideal para pedir os tais cafés e esperar pacientemente…ela faz sinal de que irá deslocar-se até à mesa onde me encontro com os cafés em mão…
Entretanto, a sala compõe-se pequena de pessoas infalíveis, menos atentas às peculiaridades momentâneas, a compartimentos únicos onde a repetição se aborrece dela mesma e resolve espreitar o insólito…"


Texto: Excerto de " Uma Breve História Matinal " de Paulo Dias

quarta-feira, maio 23, 2007

lullatone - leaves

esta música é por si só um excelente meio de transporte.



"Porquê que todos gostamos de stickers? A resposta é tão simples como isto: porque fazem parte da nossa infância. Colar, coleccionar e trocar (..) Podemos transportar a nossa arte para um simples autocolante e pô-lo por aí para que os outros o possam ver. Um pequeno cartão que chama a atenção dos outros para nós próprios..."


"Street Art, Pós-Graffiti, Arte Urbana (chamem-lhe o que quiserem), é na sua pura essência deixar uma marca. Um traço de existência, que pode provocar uma reacção de humor por parte do público ou simplesmente libertar um "Fuck You" para os poderes que consideram o nosso trabalho como vandalismo. Não quero dizer que não possa ser visto como tal, mas na minha mente cada sticker ou tag visto nas ruas tem o seu mérito artístico (...). Se os trabalhos fossem retirados do contexto urbano, colocados numa tela com uma etiqueta com o seu devido preço e posteriormente expostos numa galeria, os mesmos que os viam como vandalismo considerá-los-iam como arte..."


Texto: D Face ( Londres )
Stencil: Algures em Melbourne, autor desconhecido

vi um documentário que me fez parar para pensar um pouco...o amor de alguém que não tem memória a curto prazo, que depende da permanência da pessoa no campo visual para poder amar, que a recebe sempre como se já não a visse à bastante tempo... é um amor cálido, apesar de mais efémero que o habitual...mesmo assim ainda transborda de poesia, uma união baseada na ausência de passado, o momento que é vivido e que nunca se repete...apesar de conter em si a catástrofe, de não guardar nem cheiros nem sabores nem muito menos a inocência da juventude, é à sua maneira muito peculiar quase perfeito...

terça-feira, maio 22, 2007

Plaid - Itsu

mais um projecto da minha extensa lista de música electrónica...

Autechre - Dropp

um video não oficial para esta música dos autechre...mais um dos projectos que fazem parte da lista extensa de música electrónica...para uma versão não oficial está lá..

Four Day Interval- Tortoise

adoro esta faixa, apesar dos tortoise não estarem na tal lista extensa de música electrónica por já serem velhos parentes, de vez em quando ainda lhes faço umas visitas para ver como é que vão andando...

Shortbus




Fui ver o Shortbus hoje... gostei bastante do filme... fala de todas as coisas com que nos debatemos normalmente, mas faz a catarse delas através do hedonismo, do sexo... as personagens deste filme estão todas à procura de algo, de se vincularem, acabam num primeiro momento por fugir delas próprias e convergem para um bar Underground chamado Shortbus, onde são convidados a deixar cair as velhas màscaras e a assumir as suas indefinições, os seus limites...o sexo é ponto de partida e a resolução, pelo meio amenizam a solidão de que são alvo, conquistam uma maior liberdade emocional...a dificuldade de dar e de receber, a dificuldade da honestidade, as extravagâncias de uma vida vivida dentro das paredes solitárias de uma grande cidade... é um filme que fica na memória da retina e que vale a pena ver.

segunda-feira, maio 21, 2007


para finalizar o dia de chuva que vem e não vem, o passeio pela floresta que sem ser húmida desperta o orvalho matinal..



Pintura: August Macke ( 1887- 1914 )


P.S.: morreu trágicamente durante a Primeira Grande Guerra.

O abstracto abateu-se sobre mim hoje...falarei através da morte das palavras.



Pintura: Wassily Kandinsky ( 1866-1944 )

Este quadro tem a tristeza perfeita...apesar de nada o fazer transparecer, sempre que olho para ele não consigo deixar de sentir uma culpabilidade estranha que se eleva até à melancolia...pode ser apenas do dia de hoje, uma projecção, na linguagem dinâmica, mas algo no trabalho deste pintor coincide com os dias em que me visto assim.


Pintura: Erich Heckel ( 1883-1970 )

domingo, maio 20, 2007


"Neste lado de cá não sou nada de palpável, pois vivo tanto com os mortos como com aqueles que ainda não nasceram, um pouco mais próximo da criação do que é habitual, embora ainda não suficientemente perto..."




Texto e Pintura: Paul Klee ( 1879-1940 )

A beleza emparedada deste corpo em ruínas
arrancado à humanidade e atravessando a pintura, presa pelos fios de uma lente objectiva que segundo crenças anteriores rouba a alma ao mesmo tempo que a eterniza.


Órion, filho de Poseidon, deus do Mar, poderoso caçador e gigante, era mortal, como a sua mãe. Enfrentou a morte, temporariamente, por ter ofendido Ártemis, a Deusa da Caça.
Ao afirmar que era capaz de matar qualquer animal selvagem, Órion entrou em rota de colisão com a deusa.
A deusa, ultrajada, enviou o Escorpião para picar Órion, como castigo pela sua falta de humildade. Órion morreu e por causa disso, desde então, avista-se Órion a cair para o mundo inferior, enquanto o Escorpião ascende no céu.
Órion não morreu para sempre. Ele foi ressuscitado por Ofiúco, o "portador da serpente", que representa o deus da cura, Asclépio, ou Esculápio. Ofiúco tratou Órion com um remédio especial que funcionou como antídoto para o veneno do Escorpião. No céu, Ofiúco é visto a esmagar o Escorpião com o calcanhar.

muito bom...

sábado, maio 19, 2007




Os dias repetem-se constantemente... Ao som do habitante suiço,
o tempo globaliza-se.
Corridas que ainda não tomaram consciência delas próprias, velocímetros invisíveis prontos a premiar o primeiro…
O olho rotativo de um camaleão que fixa o vazio no olhar
Indicando presente algo fora do alcance dos meus sentidos…
Um sentimento urge fora do sistema e encontra a porta fechada…
Resultamos em máquinas menos sofisticadas do que as que se encontram por aí
e ainda esboçamos sorrisos descomprometidos…
Díficil entender a velocidade a que se gira nos dias de equinócio.

sempre que penso que a Casa dos Dias da Àgua tem os dias contados...

Four Tet - She Moves She

estas imagens fazem-me sentir cortado ao meio e relembram-me que estou sempre em construção...

Bonobo-Flutter


o meu pensamento parou aqui e descalçou esta música.


dói-me a personalidade.

apetece-me mesmo descansar o olhar nestes campos de cor... lá longe, amarelos do calor.

E rio como quem contém a fórmula de um novo Tejo…
o rio que corre na minha aldeia…
ao mesmo tempo que serpenteia a minha veia
literária de pessoa…



No alvorecer de uma data
O esquecimento mergulha uma migalha de pão…
Na aventura de um bosque frondoso
de cancelas florestais ou madeira imberbe…
Rala como barba por fazer…


E no fundo da rua um quarto
Descansado.
Azulado com uma abóbada celeste privativa…
De onde amanhece e deriva…
O nevoeiro que me formou para as questões climatéricas.


Texto: Paulo Dias
Pintura: Mark Rothko

sexta-feira, maio 18, 2007



o problema é fomos todos ensinados a ignorar os nossos corpos... por isso sempre que sinto o ranger da carapaça penso que algo de errado se passa.. e hoje estou a sentir-te demais...de onde vens?

quinta-feira, maio 17, 2007



O mim…
é o mais estranho dos meus lugares.
eu secundário, desembainha frases póstumas…
é a descida que se veste vertiginosa
esconde o cascalho da frente para deslizar mais depressa…


Inquilino de mundos áridos
que desconhece os milagres contíguos ao aparecimento da palavra…
é sobretudo a prisão que ganha asas
depois de pronunciada em voz alta…


A mais peculiar das promessas que nos são feitas,
toca na mais profunda incerteza…
ferve poções mágicas
a reboque de aromas caleidoscópicos,


Para sempre refúgio da indecisão incompleta,
trono da mais nobre redundância,
o mim…
antecâmara do eu, versão ilimitada…
amanhecer despenteado,
passagem de nível sem guarda
do seu trânsito intestinal…


O mais sonolento dos lugares…
Evapora as florestas grávidas de orvalho,
engasga-se num dialecto provinciano
e germina antes de ser plantado.


Texto: Paulo Dias

uma lista a investigar


uma lista extensa de música electrónica...já dei de caras com alguns destes projectos, como por exemplo Near The Parenthesis, (do qual já não me consigo desvincular, estou neste preciso momento a ouvi-lo), alguns já foram mencionados aqui neste espaço, outros são companheiros de batalhas já antigas, mas a maior parte ainda não foi impressa nos meus arquivos...boa pesquisa.


PS: vão a vermelho os que conheço e recomendo






Tim Hecker, Richard Devine, Quantic, Datach'i, Aeroc, Kiln, Cepia, Swod, Christopher Willits, Dntel, Eluvium, Outputmessage, Apparat, Arovane, Loscil, Tycho, Near The Parenthesis, ISAN, 高木正勝, Quench, Alva Noto, Arc Lab, Bitcrush, Conjoint, Crashed By Car, Ilkae, Funckarma, Tetsu Inoue, Bonobo, Wagon Christ, Quantum Leap, Luke Vibert, Ratatat, Boom Bip, Monoceros, Cornelius, Solvent, I Am Robot And Proud, Worm Is Green, Bad Loop, EN(Vitre), Unit 21, Takeshi Nakamura, Murcof, Koushik, Taylor Deupreé, Caural, Nudge, Venetian Snares, Twerk, µ-Ziq, Neotropic, Lusine, Lusine ICL Colleen, Deru, Xploding Plastix, Kettel, Sybarite, Fennesz, Vladislav Delay, Proem, Trio X3, Squarepusher, Lemon Jelly, Yasume, Wibutee, Susumu Yokota & Rothko, Igneous Flame, kangding ray, Secede, Telefon Tel Aviv, Populous, Dabrye, Marumari, Riow Arai, Speedy J, EU, Rei Harakami, Triosk, Lackluster,Christian Kleine, Caribou, Boards of Canada, Akufen, Amon Tobin, Aphex Twin, Autechre, Biosphere, Fonica, Daedelus, Four Tet, Icarus, Stars of the Lid, Twerk, Another Electronic Musician, B. Fleischmann, eRikm, Funkstörung, Igneous Flame, Jan Jelinek, Max Tundra, Monolake, Prefuse 73, Scone, Shuttle 358, NOBUKAZU TAKEMURA, Murcof, Ochre, Neotropic, Springintgut, SubtractiveLAD, Trentemøller, Tristeza, Phoenecia, Sébastien Roux, Loess, Xela, Sogar, Denzel and Huhn, Kit Clayton, Chris Clark, Nathan Fake, Manyfingers, Plaid, Schneider TM, Styrofoam, Tu M', Mitchell Akiyama, Emisor, Steinbrüchel, Oto, Fourcolor, Thomas Köner, SND, Klimek, Goem, Ø, Gutevolk, Secret Mommy, Pan Sonic, Frank Bretschneider

arc lab


sine waves e grãos de açucar a bater na abóbada da imaginação com a finalidade de produzir pipocas doces e coradas daquelas de feira num dia qualquer de maio à noite...


Artista: Arc Lab
Álbum: The Nineteen Floors (foto)
Editora: Music Made By People

sabe bem ser o coveiro em mim próprio de uma época que já se confunde com memórias mitificadas... quase que aposto, como toda a gente, que a previsibilidade humana irá desembocar nuns redondos 90... a nostalgia mais forte, até porque cheira a adoslescência...está ao virar da esquina, até pago para ver com enfado o que será recuperado dos anos 90...mas por enquanto sabe bem ser o coveiro em mim dos 80..se não o fizer, quem o fará?

quarta-feira, maio 16, 2007

Iconografia 80´s # 2

um momento de fusão pura entre duas figuras que marcaram os 80...um dos melhores filmes da década a apadrinhar a emergência de um dos melhores músicos dentro dela...clássico.

Iconografia 80´s

hoje é dia de velório dos 80, e como em alguns destes acontecimentos se costumam contar belas estórias sobre o defunto, cá vai uma que retrata bem a sua herança iconográfica...certamente alguns de vocês irão esboçar um sorriso quando virem estas imagens, outros não... grandes tardes à volta da máquina dos sonhos, o ZX Spectrum, Tetravõ da PS3...

os anos 80 estão prestes a abandonar-nos, moribundos, de uma vez por todas...já os vivi duas vezes e a minha memória não aguenta tanta nostalgia...mas não podia deixar de fazer um tributo ao que de melhor foi feito nessa já longinqua década...TWIN PEAKS foi sem dúvida nenhuma a melhor experiência visual em televisão da segunda metade dos 80... a reposição feita à 3 anos não lhe fez justiça...fica o sonho do agente Cooper, um paradigma do universo onirizante de Lynch


ainda ontem sonhei que a nossa cidade estava a ser invadida por Aliens sem vergonha na cara, simplesmente porque não a tinham...claro que o meu apurado sentido de omnipotência imediatamente me designou um papel relevante, à altura do momento... imbuído de um espírito de "vigilante" e munido com o cabo de uma vassoura em tempos propriedade de uma bruxa que ardeu numa pira improvisada, lutei contra estes maléficos e mal intencionados monstros intergalácticos...devo dizer que o meu triunfo foi inequívoco, sem mácula... fica aqui a minha candidatura para destronar qualquer herói apocaliptico que ainda povoe o nosso imaginário...

Steve flying up and down stairs

tenho andado a ouvir este projecto nos últimos dias, assim que assento arraiais e monto bancas... gosto da ideia subjacente à música, alguma semelhança com um universo manipulável, onde as leis da física são um desafio à imaginação e não constantes, no fundo a premissa presidente dos inventores de videojogos...
o projecto é ILKAE...
espreitem com o ouvido interno, aquele que tudo vê...

segunda-feira, maio 14, 2007

domingo e noite



o tédio do domingo à noite, por norma de optimismo vazio, a entrada para o portal da rotina, uma caminhada cinzenta, os programas televisivos sem ser a onda curta, a inibição que provoca a instabilidade meteorológica, o tédio da noite de domingo, vazio por norma de optimismo, portal da rotina de entrada, cinza dos caminhos, a onda curta, a instabilidade que provoca a inibição metereológica, o domingo do tédio à noite, norma do vazio optimista...

sexta-feira, maio 11, 2007

a monstra



de 21 a 27 de Maio, nos cinemas King e no Teatro Maria Matos, vai decorrer mais uma edição do Festival de Cinema de Animação de Lisboa, a MOnstRA, este ano com uma secção competitiva de longas metragens. O país convidado é a Rússia. Os bilhetes custam 4 euros ou 3 com desconto.

diplomacia macia



Às vezes discuto contigo, esquizofrénico…
Nem sequer te encontro, a não ser a tua representação..
A tua morada de diplomacia…algures num restelo equivalente
Com bandeira hasteada… sim, formosa
Outra coisa não seria de esperar…
A minha representação de ti não permite hostilidades
Apenas diplomacia…


Passa por mim sem me veres…
se me encontrares,
finge surpresa e, acima de tudo, sorri.


Sorri para que eu perceba a
tontura que te precede,
a vertigem que distende o teu hesitante músculo facial…


SORRI; dá-me um daqueles que te vi guardar a sete chaves…
olha-me de frente, não te acanhes…
não penses que o vazio é velejado por entre mágoa,
que é sintoma de decepção…
pensa apenas que o sorriso que trazes contigo é maior
que a eternidade que ficou por explorar…


Possuis a mesma delicadeza
de uma parede de granito outonal…
dormes em sossego e partilhas o teu mundo
com os que lá ficaram,
náufragos dos teus líquidos amenos…


Acima de tudo, sorri.

Não prives a tua alva dentadura
de fazer uma última aparição
e de triunfar sobre a indiferença com que come
mais um fruto proibido


Talvez quando fores velha e desdentada
o vento que te escolhe como leito da tempestade
guarde um silvo agudo por entre os teus tardios dentes
e afaste os ouvidos de quem se aproxima;


Pode ser que eu regresse da bruma vestido de sebastião
com a dentadura
que te prometi para a eternidade…


mas não esperes por mim, já todo eu sou desdentado
e nem sequer estou perto da meia idade
não me custa mostrar o buraco que tenho dentro de mim…
os meus dentes não mentem;
ruíram, devolutos que estão por falta de novos inquilinos


por isso, quando me vires corre rapidamente, foge
até à loja mais próxima e abastece-te,
como se estivesses em alerta vermelho
e o mundo inteiro estivesse na iminência de um
ataque organizado pelas nações aliadas ao teu sorriso...


Envolves todos os teus dentes
na dissumulação de todas as coisas que porventura sentes
e na véspera de me deixares dormente
a mais uma das tuas flutuações,
que durmas em sossego com todos os que por lá ficaram,
pobres coitados, habitantes insulares
que desaprenderam a sorrir dentro de ti.



Texto: Paulo Dias

quinta-feira, maio 10, 2007

Video Dating Tape


a oportunidade única de conhecer JAKE..

The Young Heroes of Shaolin (Thieu Lam Xuat Anh Hung)- Theme

intemporal... as tardes em frente ao lanche e as brincadeiras de rua que se seguiam a estes momentos...

Cornelius - Tone Twilight Zone


a simplicidade de quem anda de patins com as mãos atrás das costas...
simplesmente excelente..

domingo, maio 06, 2007

azul


está um belo dia lá fora... vou abraçar o céu azul que se estende desde a minha janela até onde o desejo faz uma curva, delineando a forma do planeta onde habito por norma.

é tempo de fazer tempo de momentos, é preciso perceber o que é que nos saúda com um sorriso brilhante e nos faz descobrir coisas que pensávamos estarem mortas em nós....envolver as nossas áreas menos luminosas com um sopro de luz, um feixe de boa vontade que salpique toda a essência com uma espécie de verdade incontornável...dar um abraço compreensivo a nós mesmos, que una as extremidades polares, mesmo que ninguém lá esteja para testemunhar..

quarta-feira, maio 02, 2007

o efeito borboleta


Efeito borboleta é um termo que se refere às condições iniciais dentro da teoria do caos. Este efeito foi analisado pela primeira vez em 1963 por Edward Lorenz. Segundo a teoria apresentada, o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo.

excelente metáfora para o efeito borboleta...