sábado, fevereiro 02, 2008

Poema #1



Se sou liquido e estou encarcerado, porque me evaporo?
E se me evaporo, onde está a chuva a que tenho direito?


Não me considero sólido.
Se fosse sólido seria fruto da sedimentação
talvez rocha.
Ainda não houve alma que assim se pronunciasse na minha direcção.


Gostaria porém de estar aos ombros de uma montanha
vê-la parir um rato apressado
segurá-la pelas mãos na extinção do parto
e cobri-la com um manto branco de avalanche.


Mas teria de ser líquido
para poder escorrer sólido
encosta abaixo.


Não.
Não serei líquido, concerteza.
Não cabe em mim a imensidão dos oceanos e as suas riquezas.
Não aprendi a escutar o rumor das marés ou a beber a silhueta prateada das noites luadas
Nem a manter à volta falésias obstinadas em equilíbrio.


No entanto desgasto as redondezas
invento arestas afiadas ou ilhas
a quem chamo rochas e pedregulhos
e sou confundido com àgua mole.



Sou ainda pedra dura
morada de rapinas, ninhos e eremitas
metamórfico, às vezes magmático incandescente
e sonho com o tecto do mundo.



Serei então mistura
meio liquido meio sólido nunca gasoso.



Porque se fosse gasoso este poema estaria Evaporado.



Texto: Paulo Dias

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