" (...) Adivinho-te o nome; ficas a meio caminho do alfabeto, virando à esquerda…
Procuras semáforos em ruínas, catatónicos… deles não se tem a certeza de respirar à tua passagem; firme, mas silenciosamente, exiges minutos escancarados de espanto… assumes uma inquieta forma de posar; um pé distante do outro, um corpo distinto dos demais, uma aparência bem ensaiada, um disforme sentido de humor…
Sempre que pousas em mim, a máquina reveste-se de formigas soldado…suavizas a engrenagem, susbstituis peças danificadas por outras gerontes, talvez de meia idade… o seu peso encolhe a minha sanidade; a tua emerge de um banho reparador em àguas cálidas… o ruído amplifica a tua presença, faz campanha nas bocas que te elegem abertas…
Todas as vezes que pouso em ti, tu já não estás… perdes-te no meio da névoa embevecida de sonhos fugitivos, na cortina transparente de corpos derrotados, cabisbaixos, que nem sequer ousam perturbar o teu momento triunfante, enquanto palestras sobre prevenção rodoviária decorrem num qualquer canto burocrático, ignorante da tua existência…"
Texto: Excerto de "Semáforos e Ruínas" de Paulo Dias
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