e o mais fixe é que todas as semanas aprendia algo de novo sobre história das civilizações, arqueologia, qualquer coisa...os desenhos na altura eram assim...um pretexto para a aprendizagem...o verdadeiro dois em um...
quinta-feira, junho 28, 2007
Sport Billy
terça-feira, junho 26, 2007
Ser adulto
" (...) bem, a questão importante é saber por onde começar, qual o ponto de partida do sofrimento que é instantâneo e que só tarde e fora de horas aprendemos a transmutar…posso dissertar sobre o tipo de ferramentas que nos é fornecida por esta sociedade interrompida, volátil; que tipo de importância tem o ser adulto ou maduro, se com isso matamos o único ser a que conseguimos dar luz, a criança residente, que pura e simplesmente se perde no meio do processo? Ser adulto, no fundo, é sentir cada vez mais intermitente esta criança que um dia se apoderou de nós, do nosso sorriso, da nossa espontaneidade e que alimentava a inocência de todos os que, deliciados, se reuniam à volta dela… e é por isso que as pessoas procriam, têm filhos, crianças, para a poderem sentir de novo, para terem a certeza que ela está bem e que podem aconchegá-la no sono enquanto couber no berço ilusório da idade dourada (...) "
Texto: Excerto de " A cortina de fumo "
Texto: Excerto de " A cortina de fumo "
" (...) O milagre da solidão que enquanto o diabo nos esfrega os olhos alastra e toma proporções consideráveis fez-me finalmente acordar para todo este véu enfumarado que separa os saudáveis fumadores da vida, os verdadeiros sábios que se vão matando aos poucos, voluntáriamente e apesar de todos os avisos, dos outros que pensam que a abstinência potável e a conformidade às regras pré-existentes é a melhor droga ( que a paz esteja com ele+s)… dá-me vontade de rir de quem tem a pretensão de ter o destino nas mãos, ainda por cima sentindo a tentação alarmante de evangelizar o mundo à beira do colapso… não tenho dúvidas; a queda iniciou-se a partir do momento em que ganhámos a capacidade craniana para duvidar de nós próprios, a partir do momento em que pudemos observar o nosso comportamento a ser engolido por normas atávicas, oriundas não sei de que conhecimento ancestral, e que origina as regras do jogo; que não é mais do que uma forma de ele próprio ( o criador ) encontrar um sentido para existir, de ter consciência individual (…) "
Texto: Excerto de " A cortina de fumo " de Paulo Dias
Passei o dia a ver aviões e soube bem. Lembrei-me que a melhor coisa que podemos ter é o mesmo olho que tivemos em miúdos. Sempre quis pilotar um avião e sempre soube que nunca o poderia fazer, porque um desejo contém sempre o seu medo. E eu tenho medo de voar. Mas continuo com o mesmo olho sorridente quando vejo aviões, sejam aqueles de combate ou os outros, aqueles controlados à distância, quase pilotados por nós. Sempre quis pilotar alguma coisa. E não vou desistir.Quando for grande quero ter os mesmos olhos com o mesmo conteúdo que tenho hoje.
segunda-feira, junho 25, 2007
O futuro de Bilal
Se de tanto tentar o homem conseguir transformar o futuro numa daquelas paisagens apocaliptícas do estilo Mad Max e arredores, eu quero ser uma personagem saída directamente da marquesa plástica de um cirurgião que tenha lido muitos livros do Bilal. E de preferência ter um cabelo com duas cores e um animal de estimação às riscas, talvez um felino feito por encomenda...
E ter como etiqueta ou pano de fundo uma existência quase heróica que me permita viver uma vida digna de ser desenhada..
Porque se de tanto tentar o homem não conseguir transformar o futuro num jardim de destroços, que valor terão os profetas do desastre? Não nos podemos dar ao luxo de os desacreditar, nem que para isso tenhamos de forjar uma auto destruição qualquer... tudo menos perdermos o valor transcendente que julgamos possuir. E uma maneira de manter essa nossa característica é construir a realidade a partir de coisas saídas directamente de canetas inocentes, produto dos seus antepassados.
Mergulhar numa banheira vazia requer um certo poder de antítese. O que normalmente é pedido é exactamente o contrário, a pressa, o sincretismo, a síntese, o resumirmos uma tarefa num gesto ou palavra, mesmo que soe mal e saia inexplicável...pois bem, nesta imagem adivinha-se a antítese, a demora lentificada, o processo ruminante, a calma, a digestão, o final de um ciclo por mais pequeno que seja. Mergulhar no vazio requer sempre umas gotas de tempo disposto a ser gasto...sem que nos digam que o nosso poder de síntese deve ser exercitado...no vazio não existe exercício, é-se simplesmente.
domingo, junho 24, 2007
Entrevista sobre Musica #2
E agora as respostas:
1- definir música é mais difícil do que parece à partida. Podemos dar uma definição tipo dicionário ou uma definição puramente subjectiva.. parece-me que é da segunda que estás à espera... música para mim é a representação de todo um universo ou vários, ininteligíveis à partida e que se agregam em sons para provocar melodias mais ou menos agradáveis; é uma forma de comunicação primordial e inerente ao homem; é veículo de transformação e ponte para dimensões paralelas; é uma resposta invisível a todas as perguntas jamais formuladas... é uma benção dos supostos criadores do universo....
1.2- a palavra música está intimamente ligada aos momentos em que dela se desfruta... memórias, momentos, fotografias mentais, ralos de banheira profundos, o passar das horas vagas, a minha primeira infância, almoços em família e dias festivos, aquilo que eu quero e vou fazer até ao fim dos meus dias, todo o meu conteúdo que pode ser explicado através dela...
2- a música para mim não tem uma função específica... depende dos dias, dos humores ou do contexto em que está inserida... pode ser ritual ou hábito, pode ser necessidade de catarse sem recorrer a ajuda profissional, pode ser a negação dela própria, pode ser puramente estética, pode ser instrumento de afirmação perante os poderes que condicionam a expressão ( o rock associado a uma geração que ambicionava a ruptura com os costumes instalados )... a sua função é não ter função específica... é liberdade em movimento, é, em última análise, a paz...
3- tudo o que sentimos ocorre primeiro no nosso cérebro... nesse sentido é o nosso cérebro e posteriormente nós que reagimos emotivamente à música... somos nós que colorimos e ilustramos as músicas como bem entendemos, mas para existir essa reacção torna-se indispensável a existência de um gatilho exterior, um estímulo... sendo a musica expressão de algo que se sente ou veículo de comunicação, sem dúvida que a música pode transmitir e exprimir emoções... a relação entre a mensagem original e a mensagem apreendida não é linear, visto que a pessoa que a percepciona acomoda a informação de acordo com a sua realidade interna... mas sem dúvida nenhuma que a música sendo comunicação é capaz de exprimir seja o que for, mesmo que à partida não ambicione exprimir nada... em suma, as duas são interdependentes
4- não existem duas apreciações iguais, logo seria injusto dar mais crédito a uma apreciação do que a outra... diria que permite uma apreciação e abordagem diferente... não podemos é ficar reféns de um tipo específico de apreciação... tocar um instrumento permite-nos, por exemplo, distinguir melhor as partes componentes de uma música, mas não é condição essencial para que isso aconteça.. um bom ouvido é mais importante na apreciação de uma música do que saber ler uma pauta ou saber tocar um instrumento..
5- as palavras servem propósitos mais conscientes... ilustram um determinado estado de espírito, tém em regra geral um objectivo mais saliente... por vezes uma letra ou poema pode ajudar a música a ganhar uma maior profundidade e intimidade... há sempre aquelas letras que nos fazem lembrar épocas especificas das nossas vidas pelo seu conteúdo... eu presto sempre primeiro atenção à música em si e só depois é que absorvo a letra... para mim quando as duas se complementam é o ideal.. quando existe uma discrepância qualquer que seja muito visível entre a letra e a música fico desconfortável e acabo por não conseguir absorver nem uma nem outra... mas sem dúvida que a letra, por exemplo na música pop e mainstream, tem uma grande importância: basta notar na quantidade de vezes que os refrôes das músicas são repetidos para se certificarem que não vão abandonar o nosso cérebro tão rapidamente... se ajuda a apreciar a música? - nem sempre...
Entrevista sobre Musica #1
Descobri também uma entrevista que me fizeram sobre música. Achei piada a algumas das respostas que dei. Decidi partilhar. Primeiro as perguntas:
1- Dê uma definição de música.
1.2-O que é que a palavra Música evoca?
2- Associa a Música a uma função específica, para além da função estética? Qual?
3- Será que a Música é mesmo capaz de exprimir emoção, ou o nosso cérebro é que reage emotivamente à Música?
4- Considera que a capacidade de ler música ou tocar um instrumento permite uma melhor apreciação musical?
5- Qual a importância das palavras numa música, ou seja, a existência de um título descritivo ou de uma letra/ poema ajuda-o a apreciar a música?
" (…) agora de repente veio-me à cabeça o pormenor louco de um plantador de vogais, semeadas em campos floridos, que davam à luz recitais poéticos compostos de palavras inexistentes… a vontade que tive de gravar em película tudo isto… pensando bem, deve ter sido esse o mote para a tez invulgar deste dia novo, o plantador de poesia feita de vogais ausentes… mas queria ter guardado isto tudo para mais tarde, não partilhar logo contigo o conteúdo lunático deste sonho; queria ter procurado uma paisagem condizente para que a pudesses mergulhar e seres tu o filme em película e eu o auditório sedento de uma transfusão onírica bem sucedida.. agora já sabes qual é o plano, espero que não apresentes desculpas nem partes do corpo doridas por algum motivo, nada de desculpas andrajosas…vamos que o sol já sua abundante a caminho do seu zénite, e vozes já apregoam que a manhã nasceu única e que vale a pena sair dos casúlos que alimentam a inércia que nos é deixada em herança pelos poderes instalados… não mates a espontaneidade, alimenta-a com um pequeno almoço levado numa cesta de verga, coberto com uma toalha que para além de servir de molde a refeições ao ar livre, também carrega torres, bispos e rainhas que adoram saltitar nos quadrados vermelhos e brancos do seu padrão clássico…e então, vens ou não? "
Imagem: Cindy Sherman
Texto: Excerto de " Porta Fora " de Paulo Dias
Redescobrimentos
Ao vasculhar as memórias que consegui guardar por escrito descobri, ou melhor, redescobri uma estória que nunca conseguiu sair do papel amarrotado onde estava sentada...vou fazer-lhe o favor de desentorpecer-lhe os músculos e levá-la a passear neste universo virtual...quanto às rugas e vincos não há nada que se possa fazer:
Esta estória fala de uma personagem de um conto que escrevi à uns tempos...nesse conto ele é um velho que todos os dias de manhã aguarda pacientemente que alguém lhe peça para tocar o seu acordeão...
" Esta história começa com ele em pequeno, com um irmão que o tem refém da sua angústia, do seu ciúme… ele deposita na orelha do velho um pequeno feijão como se fosse uma partida inocente… o feijão acaba por germinaar e crescer lentamente e servir de impulsionador de sonhos aéreos…os sonhos e pensamentos escalam o pé de feijão, mesmo antes de ele ouvir a historia clássica que fala disso.. tem imagens que são geradas nessas altitudes brancas e fofas, nesses conjuntos de nuvens adoradas que o convidam a ficar mais tempo, por vezes em casas arruinadas e assustadoras.. a frase inicial dá conta de uma chaleira fumegante que está a suar ao lume.. é inverno; a lareira está acesa e a casa fica encostada ao sopé de uma montanha, onde o frio bate à porta invernal… a familia é constituida pelos pais, pelo irmão e pela avó, parteira de profissão e que se mudou recentemente para junto da filha para poder ajudá-la a dar à luz… a casa é modesta, porém acolhedora…os quartos a as divisões são acolhedores…o pai dele é um músico que mal consegue dinheiro suficiente para sustentar a família; e o pouco dinheiro que tem gasta-o na taberna local…a mão da mãe faz vestidos por medida, é a mais talentosa... "
O resto desta introdução ficou sempre engasgada...nunca mais voltei a pegar nela...como tudo na vida, teve aqui os seus poucos minutos de fama..
quarta-feira, junho 20, 2007
E claro, nas mondas em terreno estéril, vem ao de cima o que está armazenado...estou de visita ao celeiro da abundância, onde guardo as provisões de insanidade mental...aqui vai o trigo já devidamente separado do joio:
"A verdadeira tragédia que me tira as medidas é aquela que é invisível para toda a gente que não me sente, que pensa que eu sou o mais habitável dos mundos, que a aparência exteriorizada é isenta de querelas internas e flutua, plasmática e balsâmica acima de todas as suspeitas e agressões… pois bem, têm aqui o meu manifesto de sofrimento; o que é imaterial e exibe em mim o seu mais profundo requinte… ainda bem que o abandono é sempre uma opção; não sei o que seria se o criador (?) não tivesse inventado teclas de escape e covas profundas no cimo de montanhas cónicas… se eu pudesse pelo menos reconhecê-lo e convidá-lo para uma conversa calma, falar de como estou longe de qualquer ideia triunfante encomendada para me entreter; poder questionar se algum dia ele pensou que a cortina de ilusão duraria para sempre e no caso da humanidade acordar, que tipo de estratégia alternativa tinha em mente..."
Imagem: Erich Heckel
Texto: Excerto de " A cortina de fumo " de Paulo Dias
Monolake - Linear
ainda tenho de ir consultar a minha lista extensa de música electrónica a ver se constam.
segunda-feira, junho 18, 2007
Mas de qualquer maneira, e não seria eu se não estivesse à procura do lado escondido das coisas, existe sempre o lado desinteressante e decadente... neste caso específico é que não tenho tido nada de interessante para postar ou partilhar... os segredos da alma são assim, calam-se quando a vida corre e aparecem quando a vida se cansa...
Dias
Existem dias assim, dias em que se aprende mais do que a quantidade racionada por pessoa...E tudo apenas se deve aos olhos bem abertos...Hoje senti que estava pronto para receber informação e assimilar, que tem sido a grande dificuldade...Há dias assim, em que voltamos a ser humanos...
sexta-feira, junho 15, 2007
Este corpo impermeável à agua não tem reserva de sentimentos. É irreal, por isso tenta sentir o elemento fundamental da existência, a lágrima. Não chora, logo não existe, apesar de pensar nisso. Por não saber onde a encontrar, abre a torneira. A empatia não vem, o barulho corrente não a traz. A àgua nascente só por si nada provoca. A impermeabilidade é a chave do prazer. O corpo exibe a humidade liquída. O que dizer de pulmões molhados, ou de um coração alagado? Certamente que evitariam o prazer, seriam desagradáveis. O prazer impermeável é o príncipio da existência; este corpo continua impermeável e é por isso que sobrevive, ainda que molhado.
Hipocrisia
Existem ainda muitas coisas que me fazem um pouco de confusão nas pessoas. A hipocrisia é uma delas; o fingimento camaleónico, a postura desleal, o sorriso amarelo a decorar a face maquilhada, a invisibilidade dos sentimentos reais. É lamentável ter de lidar com isso no dia a dia, ter de trabalhar as emoções e a postura de forma a poder acomodar esta realidade. Não irei sucumbir a estas estratégias, simplesmente porque não fazem parte do meu código genético. Quando uma situação não me agrada, demonstro-a abertamente. Quando não gosto de alguém, o meu sorriso não se transforma em amarelo, simplesmente não emerge.
O mais grave é o senso comum nestas situações; as pessoas vão mimetizando as outras até evoluirem para pelagens adaptativas e que se confundem com o meio ambiente circundante. Este post sinaliza a minha desconfiança em relação a estes pressupostos. É possível vencer e ser-se bom no que se faz e ao mesmo tempo não beijar rabos a tempo inteiro.
Não irei mudar, não irei vergar a minha atitude. Nem que para isso tenha de abdicar de certas e determinadas vantagens.
" A hipocrisia é o ato de fingir ter crenças, virtudes e sentimentos que a pessoa na verdade não possui. A palavra deriva do latim hypocrisis e do grego hupokrisis ambos significando representar ou fingir. "
o regresso
Hoje é dia de retorno a este blog; não que estivesse longe, mas esteve ausente, repetindo-se a cada visita. Faz lembrar de certa maneira aquelas pessoas que contam estórias que já ouvimos, vezes sem conta e sempre da mesma maneira. Fica aqui a nota; hoje é o dia em que regresso à reflexão e saio do automatismo.
domingo, junho 10, 2007
10 de Junho
Infelizmente o dia 10 de Junho transformou-se para mim num pesadelo de noite, sem saber se um grupo de pessoas mal formadas vão atacar alguém ou se os media vão incendiar tochas e vestir roupas anónimas.
Mas quando era pequeno lembro-me de acordar cedo para ver os caças a passar por cima da minha janela e amanhecer bem disposto, até porque estavamos em final de estação e o Santo António já fervia na mente, juntamente com um pedaço de broa com a sardinha quente em cima. O dia de portugal deveria ser mais dia de Camões, dos poetas da nação e de toda a gente que redimensiona a ocidental praia lusitana, do que o dia da raça, destes senhores promovidos a um estauto que não é significativo, mas que fazem campanhas ignóbeis recheadas de argumentos falaciosos, que tentam isolar sectores da sociedade que são por natureza heterogéneos, culpabilizando-os da incompetência que alastra a olhos grandes no aparelho do estado e dos partidos, e que para espanto meu vão ganhando adeptos. O que quer dizer dia da raça? Quem hoje em dia pode reclamar uma raça pura ou a pretensão da sua purificação? Tudo isto é triste, tudo isto é enfado.
Mas quando era pequeno lembro-me de acordar cedo para ver os caças a passar por cima da minha janela e amanhecer bem disposto, até porque estavamos em final de estação e o Santo António já fervia na mente, juntamente com um pedaço de broa com a sardinha quente em cima. O dia de portugal deveria ser mais dia de Camões, dos poetas da nação e de toda a gente que redimensiona a ocidental praia lusitana, do que o dia da raça, destes senhores promovidos a um estauto que não é significativo, mas que fazem campanhas ignóbeis recheadas de argumentos falaciosos, que tentam isolar sectores da sociedade que são por natureza heterogéneos, culpabilizando-os da incompetência que alastra a olhos grandes no aparelho do estado e dos partidos, e que para espanto meu vão ganhando adeptos. O que quer dizer dia da raça? Quem hoje em dia pode reclamar uma raça pura ou a pretensão da sua purificação? Tudo isto é triste, tudo isto é enfado.
sábado, junho 09, 2007
Escrevi relativamente à pouco tempo sobre o que é ser um sábado... adiciono mais um pensamento sobre a coisa...ser um sábado é o mesmo que estar num sábado...com vontade de fazer coisas, mas com uma noção escoante do tempo...e com a carga toda da noite anterior.
E é por isso que o sábado é terreno fértil... tem um sabor que não existe durante o resto da semana e confunde-se com abundância de tempo, pelo menos até à aproximação do domingo, sobre o qual também já escrevi, mas que tem um sabor muito mais acre..concluindo assim esta tentativa de agilizar a mente num dia que pode muito bem ser desaproveitado, ser um sábado é ser o último dia da criação, o do descanso e alívio.
aranhas
Pode até ser que seja um resto qualquer de alguma substância, mas hoje no meu parapeito branco três aranhas vermelhas, que de um forma completamente descontraída transitavam bem à frente dos meus olhos, plantaram a dúvida...esfregá-los não deu nenhum resultado, nem uma baforada de fumo as demoveu (!)... é bem conhecida e documentada a minha fobia, já a vi num daqueles programas por vezes chatos, mas neste caso a variável tamanho desempenha um papel importante: quanto menos centímetros melhor...de qualquer maneira foi bonito e totalmente vermelho.
O pior é que não há maneira de as voltar a ver... para onde vão as aranhas quando se apagam?
O pior é que não há maneira de as voltar a ver... para onde vão as aranhas quando se apagam?
quarta-feira, junho 06, 2007
( Esta imagem magnífica de uma mulher prostrada de costas abandonada à sua sensualidade merece um escrito: )
" (...) Leito de brasas crepitantes, pirómanas, incandescentes
abandonadas à sua sorte ao redor de seres inflamáveis, consumidos pela tua voracidade estridente
deflagras no corpo doente, corrompido…
por vezes desbotado ausente oriundo da névoa húmida embriagada
de vez em quando feixe de luz irremediável, contente
criança de encontro ao vento, deslizante…
Também e sempre barco revolto a bordo da intempérie,
galgando o infinito dos líquidos emancipados,
trazes à proa palavras há muito encarceradas,
és casca pertinente das frases poéticas por ti lançadas…
Mas como jorras gotas ambivalentes,
foste apanhado em flagrante nas redes de pesca amarguradas do meu litoral…
por seres tão antigo, nomeio-te aspecto de importância arquelógica
e embargo as obras de demolição que se amotinam à tua volta…
dou contas da tua localização em mim nas revistas e publicações
da especialidade e baptizo-te com o nome de desejo(…) "
( Esta imagem magnífica de uma mulher prostrada de costas abandonada à sua sensualidade merece o silêncio. )
Texto: Paulo Dias ( tirado do texto " A Inclinação do Desejo" )
terça-feira, junho 05, 2007
Sozinhos
Ao contrário do que pensa o senso comum, a solidão nada tem de egoísta. É, pelo contrário, o retorno à matriz, à origem, o caminho de regresso para o bem comum. É altruísmo disfarçado de egoísmo. Só através do retorno a nós próprios, ao nosso sentir, às barbas do pensamento abandonadas é que podemos suportar o que a vida tem de combate.
A solidão não é uma saída de emergência, é a emergência da saída. É a certeza absoluta que, por mais que a gente não queira, seremos no fim sempre nós. E agora voltando às lições da morte, é por isso que somos homenageados quando morremos; mas, na minha opinião, as lágrimas deviam ser substituídas por cânticos de incentivo. É o caminho de regresso sem ninguém para nos dar a mão. Por isso inicio desde já esse processo... e na hora da minha morte quero uma salva de palmas, por ter chegado tão longe sozinho.
Mas não pensem que com isto abdico da presença dos outros...
e agora uma frase que não é minha:
"O homem só se torna autêntico quando aceita a solidão como o preço da sua própria liberdade. E torna-se inautêntico quando interpreta a solidão como abandono, como uma espécie de desconsideração de Deus ou da vida em relação a ele. Desse modo não assume a responsabilidade sobre as suas escolhas. Não aceita correr riscos para atingir seus objetivos, nem se sente responsável pela sua existência, passando a buscar amparo e segurança nos outros. Com isso abdica da sua própria existência, tornando-se um estranho para si mesmo, colocando-se ao serviço dos outros e diluindo-se no impessoal. Permanece na vida sendo um coadjuvante da sua própria história."
Imagem: Prédio de habitação em S.Paulo, Brasil
Sobre este Blog em particular
É verdade. Este Blog em particular nada diz sobre mim, que sou o seu arquitecto. Como um puzzle em fragmentos nada diz da imagem inteira que tenta compor. No entanto, todo ele é reflexo de mim, como cada bocado de puzzle é o puzzle. Cada texto e imagem contém o infinito que me liga ao infinito que sou eu próprio. Longe de me adivinhar, ele reveste-me de mais camadas porventura desconhecidas ou totalmente ausentes. Bom mistério, este. Uma cara sem feições, uma alma não registada, dedos invisíveis que diariamente me desenham no espaço virtual, a caneta da criação. Este Blog é, por isso, mais verdadeiro do que eu próprio. É a reinvenção desejada, num formato que posso dedilhar, aqui e agora, sem corantes nem conservantes.
segunda-feira, junho 04, 2007
Excertos #5
" (...) mas hoje não nos cruzámos a meio da noite, cheguei tarde.. estavas serena no teu retocar de maquilhagem… dormias profunda enquanto eu te fazia a corte no leito fora de tempo…
realcei as tuas formas, memorizei poços umbilicais, percorri-te infinitamente até me encontrar ofegante no canto oposto do quarto…dei-te a volta e tu continuaste de luz apagada, complacente...pensava que assistias a tudo; tão grande era o sorriso que exibias em moldura de galeria… não encontrei forma de ter a certeza, iria perturbar o teu descanso; preferi marcar um encontro para momentos mais tarde, à hora em que costumas acordar, olhar para mim e eu finjo que durmo para poder espreitar incógnito o teu ar de felicidade (…) "
Foto: Sophie Calle
As lágrimas que antes inundavam libertaram-se das emoções que nelas habitavam. São agora marcas no meu rosto, fatias de expressão, como registos fósseis de vidas extintas, pó acumulado e estratificado nas rugas que lentamente despertam. As mesmas águas que escorriam em queda livre dos meus olhos deram lugar a um deserto àrido e à especulação imobiliária. Disseram-me a correr que no lugar onde elas geravam vida vêm agora vidas morrer, enxugando-as com o calor do vazio que acumulam.
Sou, portanto, e à falta de melhor, mais uma vítima do aquecimento global.
domingo, junho 03, 2007
Stereolab - Miss Modular
Se pudessemos atribuir um dia da semana a esta música, ela seria claramente um sábado à noite; se fosse um mês do ano ele teria de ser quente; se tivesse nome de mulher não ficaria mal entregue...se tivesse boca eu beijava-a... se tivesse corpo seria discreto, se tivesse aspecto físico seria bela e simples, se tivesse cabelo seria curto e se tivesse rodas seria um carrinho de rolamentos.
" Todas as vezes que pouso em ti, tu já não estás…
Perdes-te no meio da névoa embevecida de sonhos fugitivos, na cortina transparente de corpos derrotados, cabisbaixos, que nem sequer ousam perturbar o teu momento triunfante, enquanto palestras sobre prevenção rodoviária decorrem num qualquer canto burocrático, ignorante da tua existência… "
Texto: Excerto do poema " Semáforos e Ruínas" de Paulo Dias
Pintura: Francis Bacon ( 1909-1992 )
"Lúcifer e o seu principal assistente, Satã, reinavam em Jerusém há mais de quinhentos mil anos, quando, nos seus corações, eles começaram a alinhar-se contra o Pai Universal e o Seu Filho, então vice-regente, Michael.
Não houve qualquer condição peculiar ou especial, no sistema de Satânia, que sugerisse ou favorecesse a rebelião. Acreditamos que a idéia teve origem e forma na mente de Lúcifer, e que ele poderia ter instigado tal rebelião, não importando onde estivesse a servir. Lúcifer anunciou os seus planos a Satã, mas foram necessários vários meses para corromper a mente do seu parceiro capaz e brilhante. Contudo, uma vez convertido às teorias rebeldes, ele tornou-se um defensor ousado e sincero da “afirmação de si e da liberdade”.
Hoje durante o dia todo não tive um único pensamento interessante. Não é que seja estritamente necessário tê-los, mas a constatação da sua ausência é confragedora. Limitei-me a ver a passagem de imagens difusas nas minhas pálpebras, distendidas como se fossem uma tela de cinema e os meus olhos ganhassem a importância que um projector tem nestas situações. Deve ser essa a função do Sábado: privar-nos de ter ideias interessantes para que ele próprio seja o terreno fértil das mesmas...
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